Num artigo publicado esta segunda-feira no “Público”, a presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, Ana Abrunhosa, advertia que há territórios onde não se recuperará população. Em sub-texto sugeria-se que há áreas do país onde se não justifica investimento público e que o princípio da coesão territorial tem de ser interpretado «criativamente».
Há dias, no Facebook, o meu amigo Fernando Camilo Ferreira notava que uma viagem de Lisboa a Cascais por autoestrada custa 1,35 euros, do Porto a Espinho 0,90 euros e, para aproximadamente a mesma distância, paga-se 2,30 euros de Caria à Guarda.
As eleições são daqui a poucas semanas e, quanto ao interior, pouco se diz, já nem sequer as habituais banalidades ou promessas ocas. Entretanto, o distrito da Guarda perdeu um deputado e tornou-se com isso menos interessante para os partidos políticos. Já nem se dão ao trabalho de fingir interesse por esta região. Talvez apareça por cá um outro na campanha eleitoral, a caminho de sítios onde os votos sejam mais importantes e onde haja mais empregos públicos a distribuir depois.
A confirmação deste desprezo virá com o Orçamento Geral do Estado para 2020, onde seremos ignorados como o temos sido todos os anos.
Há portanto muito pouco a esperar do Estado ou dos partidos. e, se quisermos desenvolver a região, atrair investidores e população, teremos de contar com os nossos próprios recursos.
Pouco há a esperar, contudo, das instituições que na Guarda deveriam ser motor do desenvolvimento. O IPG continua numa aparentemente imparável curva descendente, como mostram os resultados da primeira fase das colocações no ensino superior (mais vagas sobrantes que candidatos colocados, médias de entrada baixas). Mesmo que haja melhoria na segunda fase, é manifesto que o IPG fica a perder no jogo da oferta e da procura. A Câmara seria outro motor de desenvolvimento mas, para além de múltiplos eventos estéreis e escândalos judiciais, pouco tem produzido que traga esperança para o futuro e nada que contradiga o artigo de Ana Abrunhosa. Podem até dizer nos ministérios que não vale a pena enviar dinheiro para a Guarda “que o gastam todo em festas”.
É assim, há territórios que não interessam a ninguém e de que se ouve falar apenas por maus motivos: incêndios, escândalos e desperdício.