Admito que encontraria muitas dificuldades se tivesse que (sobre)viver sem o telemóvel e as suas múltiplas funcionalidades.
Também admito que a par dos telefones móveis, os tablets tenham vindo facilitar em muito a vida dos pais, que assim entretêm os pequenotes durante horas seguidas.
Não consigo é compreender, todavia, a ideia de que em espaços públicos se faça uso destas tecnologias com som. Não vivemos numa sociedade muda, evidentemente, e o ruido é uma realidade. Mas, em espaços coletivos, manter uma conversação com o telefone em alta voz, ver um vídeo com som enquanto se soltam umas risadas egoístas, ou usar o tablet para mostrar o Panda e os Caricas aos miúdos, não… O civismo deveria ser razão bastante para as pessoas frequentarem locais públicos sem importunar as outras.
E se todos fizéssemos o mesmo? Se todos colocássemos o telefone em alta voz quando recordamos euforicamente a jantarada de sábado à noite? Como seria se todos jogássemos “Candy Crush” com som?!
Recordo-me perfeitamente da professora do ensino primário me ter ensinado, aos 5 anos de idade, aquela máxima sempre atualíssima: «Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam a ti».
Acredito que tenha sido por esta razão que os operadores de transportes públicos criaram uma espécie de manual de instruções sobre a correta utilização dos seus serviços. Concretamente, o Metropolitano de Lisboa, já em agosto de 2010, lançou aquilo a que chamou “Carta ao Cliente”, onde se podem ler os deveres da empresa e dos passageiros. Ora, uma das obrigações destes últimos prende-se com «música incómoda», especificando-se que se devem evitar telemóveis ou outros aparelhos de som a emitir música a um volume audível e incómodo para os restantes passageiros, que não são obrigados a gostar daquele ritmo!
Pessoalmente, não consigo tolerar a ideia de ver um casal almoçar tranquilamente, com o filho ao lado, envolvido pela trilha sonora que vem do telefone do pai, e que todos os demais sejam também obrigados a ouvir o mais recente êxito da Xana Toc-Toc, enquanto se remexem na cadeira, como se tivessem bichos-carpinteiros, sem ainda assim poderem dizer nada, porque são crianças e os papás reagem mal – aliás, muito pior que os meninos!
E dizem-me assim: vê-se mesmo que não tens filhos.
E eu respondo: garanto-vos que não obrigarei ninguém a suportar os caprichos deles e que provarei que na sociedade atual ainda é possível criarmos os nossos filhos como os nossos pais nos criaram a nós – sem música de fundo.
* @pitangaboss
Jurista / Makeup Artist / Fashion Stylist