Se as eleições na Finlândia, o país considerado o mais feliz do mundo, ditaram um empate técnico entre social-democratas e um tal Partido dos Finlandeses, que dizer das recentes eleições, do passado fim de semana, na pátria de “nuestros hermanos” onde o avanço da extrema-direita, tal qual tinha acontecido na Andaluzia, aconteceu e o sentimento nacionalista falou bem alto.
Os partidos de extrema-direita, anti emigração e eurocéticos estão a ganhar terreno num processo considerado extremamente perigoso, em países como a Polónia, Hungria, Brasil, Inglaterra, Itália, Bulgária Holanda, França e agora em Espanha, em suma na Europa e no mundo.
A base eleitoral de todos eles é a mesma de Trump, Bolsonaro ou no referendo do Brexit, num discurso onde os alvos a abater são sempre os emigrantes e muçulmanos, passando pela chama nacionalista de ter o seu país de volta, na soberania nacional onde a palavra populismo é sistematicamente rejeitada, sendo este um processo visivelmente contagioso, ameaçador e terrorista. Perante estes resultados os partidos democráticos devem estar à altura de responder de forma vigorosa a estas investidas destes pretensos salvadores de tantas pátrias ameaçadas.
Os populistas, sejam eles de direita ou esquerda, são apenas e tão só gente que tenta mostrar a diferença, mas quando lá chegados, através do tal discurso fácil e de fantasia, vão cometer os mesmos erros e pecados daqueles que tanto criticaram:
Chega de tantos deputados. De tantos ministros e secretários de estado. De tantos diretores-gerais. Presidentes, vereadores, chefes de gabinete, assessores, secretários e secretárias. De tantos a mamarem a cabra. De uns a ganharem tanto e outros tão pouco. Tem de haver o salário mínimo e reforma mínima e salário máximo e reforma máxima. De casamento entre pessoas do mesmo sexo. Se não fosse o padrinho não tinha aquele emprego. E sem cunha não entrava lá. De emprego, primeiro para os nossos e só muito depois para os emigrantes e, se não quiserem trabalhar naquilo que lhes oferecem, vão com o raio que os parta, sigam viagem para os seus países de origem. Não querem trabalho enquanto receberem o rendimento mínimo. Tantos deputados na Europa para quê. Para ganharem milhares de euros e andarem de cu tremido entre Bruxelas e Lisboa. Dizem mal do lugar, mas todos querem ir para lá. O que eles querem é mesmo o tacho. A culpa do terrorismo e dos atentados é dos árabes. Acabemos com o euro, a causa de todas as desgraças, venha o escudo, chega(gando) ao cúmulo de implorarem pelo regresso de Oliveira Salazar para endireitar tudo isto.
Nesta denúncia constante de todos os males que enferma a classe dominante, o populismo não é bom nem é mau para o regime democrático, dependendo do contexto e também do timing político eleitoral, mesmo percebendo que esta ideologia, segundo Cas Mudde, «é de baixa densidade e trata um conjunto limitado de questões».
Em Portugal, o recurso a esta prática é constante e vemo-nos agora na presença de um ex-social-democrata e numa desventurada chagada, confrontados que somos com o mais básico de algumas constatações dignas de um tal monsieur de La Palisse, restando-nos, contudo, que a serenidade impere e, numa eventual geringonça espanhola onde a palavra “diálogo”, repetida três vezes, seja causa e efeito para o processo “Catalunha”, dando a entender que um governo à esquerda tem todas as possibilidades de avançar. É que governar com uma coligação de direita seria um terrível erro e, Pedro Sanchez, quer se goste quer não, é, neste preciso momento, o único político com capacidade de levar Espanha à serenidade possível nas autonomias, prosseguindo um caminho de diálogo e também de progresso.
No meio disto tudo, o que verdadeiramente me espanta é ouvir Nuno Melo, cabeça de lista do CDS/PP às eleições europeias, afirmar que o Vox «não é de extrema-direita, é só ver o programa». Então no tal dito programa não está inscrita a anti-imigração, a islamofobia e a natureza nacionalista da governação e um comportamento próximo do macaco de imitação quando apresenta como cabeça de cartaz a construção de muros entre Marrocos, Ceuta e Melilla.
C’os diabos, Nuno Melo. “Por alma da santa”…