Empresas significam empregos e empregos e empresas significam riqueza. Tem por isso o máximo interesse estudar a dinâmica empresarial nacional, regional e local (designadamente da Beira Interior). Estarão as disparidades nacionais a dissipar-se ou pelo contrário a aumentar? Este artigo faz as contas e mostra como o país cresce cada vez menos harmonicamente…
Segundo uma publicação recente da D&B até final de fevereiro pp “foram criadas 11099 novas empresas, mais 21,4% do que no mesmo período de 2018, ano em que foi batido o recorde de criação de empresas em Portugal. Desde o princípio do ano e até final de fevereiro foram criadas 11099 novas empresas, mais 21,4% do que no mesmo período de 2018, ano em que foi batido o recorde de criação de empresas em Portugal. Este crescimento é generalizado a todos os setores de atividade e a todos os distritos. Além dos Serviços, que é sempre o setor onde surgem mais empresas, destacam-se em número de empresas os setores da Construção, com 1424 novas empresas, o Retalho com 1303 e o Alojamento e Restauração com 1078. Em termos de crescimento face a 2018, os maiores crescimentos percentuais registam-se nos setores dos Transportes (+128%) e da Construção (+47,4%). Nos últimos 12 meses, foram constituídas 2,5 empresas por cada uma que encerrou. O setor das Atividades Imobiliárias é o que regista um rácio mais elevado entre constituições e encerramentos. Neste setor, foram criadas 5,2 empresas por cada uma que encerrou, mais do dobro da média do tecido empresarial”.
O Setor onde nascem mais empresas é o dos Serviços, com 3.557 nascimentos; vem depois a Construção com 1.424 e o Retalho com 1.303. O Setor onde encerram mais empresas é também o dos Serviços, com 697 encerramentos, seguido do Retalho com 512. Os Setores onde mais cresce o número de constituições de empresas são os Serviços (+593, +20%), a Construção (+458 nascimentos, +47,4%) e os Transportes (+412 nascimentos, +128%). O Setor onde mais decresce o número de constituições é o do Gás, Eletricidade e Água (-2 nascimentos, – 6,3%). Isto em termos de variação absoluta face ao período homólogo de 2018.
Barómetro Setorial: Em termos sectoriais e em fevereiro de 2019 é o sector dos serviços o que tem maior número de empresas com 176480 empresas (35.8% do todo nacional), seguem-se o retalho com 64298 (13%), a construção com 41376 (8.4%), as indústrias transformadoras com 41010 (8.3%), o alojamento e restauração com 40756 (8.3%), as atividades imobiliárias com 37115 (7.5%), o s. grossista com 34424 (7%), os transportes 19235 (3.9%), a agricultura, pecuária pesca e caça com 17396 (3.5%), as atividades financeiras com 9838 (2%), as telecomunicações com 8988 (1.8%), o gás, eletricidade e água com 1834 (0.4%) e as indústrias extrativas com o resto do bolo 669 (0.1%).
A nível nacional por cada empresa encerrada nasceram em média 2.5 empresas novas. Contudo, realce pela positiva, i. é, por terem criado acima da média nacional, o sector das atividades imobiliárias com 5.2 empresas, o mais dinâmico, seguido do dos serviços com 3.2, dos transportes com 3.3, das telecomunicações com 3.1, da agricultura, pecuária, pesca e caça com 3.0 e por fim, do gás, eletricidade e água com 2.9. Pela negativa, i. é, com criação de empresas abaixo da média nacional temos a indústria extrativa com 1.1 empresas criadas por empresa encerrada, as indústrias transformadoras com 1.3, o s. grossista com 1.5, o s. retalhista com 1.6, as atividades financeiras com 2.1, e a construção com 2.2.
Dinâmica Regional: Em termos geográficos / distritais o distrito que tinha mais empresas em Fevereiro de 2019 era, como seria de esperar, Lisboa com 141900 (28.8%), seguido do Porto com 34557 (17.1%), de Braga com 37959 (7.7%), de Setúbal com 29533 (6%), de Aveiro com 29134 (5.9%), Faro com 24013 (4.9%), de Leiria com 17222 (3.6%), Santarém com 17722 (3.6%), Coimbra com 17463 (3.5%), Viseu 14007 (2.8%), Funchal 11115 (2.3%), V. Castelo 9720 (2%), Évora com 7771 (1.6%), V. Real 7637 (1.5%), C. Branco 7482 (1.5%), Beja 6752 (1.4%), Guarda 6234 (1.3%), Bragança 5504 (1.1%), Portalegre 4837 (1%), P. Delgada (0.8%), A. Heroísmo 2061 (0.4%) e Horta com as restantes 1317 (0.3%).
A nível distrital nasceram +20.5%, entraram em insolvência -29.8% e encerraram -11.4% em fevereiro de 2019. O distrito mais dinâmico em termos relativos e de criação de empresas foi o da Horta que cresceu 600% (+6 empresas), seguido de Bragança +105% e de Beja +64.1%. C. Branco cresceu +13.2% (+5 empresas) e Guarda cresceu +11.1% (+4). Em termos brutos quem mais cresceu foi quem já era grande: Lisboa +3131 empresas, seguido do Porto +1681, Setúbal +673, Braga +662, Faro +564 e Aveiro +393. Os restantes 16 distritos (73.3% do total) quedou-se apenas com +2567 empresas (56.6%).
Em termos acumulados os últimos 2 meses (até 28 de fevereiro de 2019) houve um crescimento +21.4% do parque empresarial explicados pelos valores de Aveiro, Beja, Braga, Bragança, C Branco (56.3%, 45 empr), Coimbra, Évora, Horta, Leiria, Santarém e Viseu. Os restantes distritos cresceram abaixo da média, casos de A. Heroísmo, Faro, Funchal, Guarda (16.2%, +14 empresas), Lisboa (11.5%), P. Delgada, Portalegre, Porto, V. Castelo e V. Real.
Por cada encerramento criam-se 2.5 empresas novas a nível nacional. A situação a nível dos distritos portugueses é a seguinte: A. Heroísmo 2.5, Aveiro 2.2, Beja 2.5, Braga 2.1, Bragança 3.0, C. Branco 2.1, Coimbra 2.3, Évora 2.3, Faro 2.8, Funchal 2.8, Guarda 2.1, Horta 2.7, Leiria 2.1, Lisboa 2.0, P. Delgada 3.0, Portalegre 2.3, Porto 2.1, Santarém 1.9, Setúbal 2.3, V. Castelo 2.2, V. Real 3.1 e Viseu 2. Os distritos da B. I. e da R. Centro Viseu, Guarda, C. Branco, Aveiro e Leiria estão entre os que menos empresas criaram por cada empresa encerrada. Coimbra fica-se pela média. Realce pela positiva ou pela dinâmica de criação de empresas para V. Real, Bragança, P. Delgada, Faro e Funchal pois criaram empresas acima da média nacional.
Estes valores demonstram, pelo menos no que diz respeito ao Interior Norte, Centro, Alentejo e Regiões Autónomas (Açores e Madeira), que ao nível da criação de empresas, não se vislumbra qualquer alteração da tendência de longo prazo de esvaziamento empresarial progressivo a que se vem assistindo no Interior face aos grandes centros nacionais situados no Litoral (Lisboa, Porto Braga, Setúbal, Braga) e ao Algarve. E se não se criando empresas, não se cria emprego nem riqueza… E os jovens do interior profundo têm que continuar a emigrar para o estrangeiro ou para o litoral se querem ter emprego e futuro…
* Prof Catedrático, Universidade da Beira Interior. Responsável do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social (ODES).