A Iberdrola, Endesa e Naturgy, proprietários da central nuclear de Almaraz, vêm uma vez mais solicitar a renovação da licença por mais oito anos e dois meses, quando todos sabemos que a dita central deverá encerrar portas já no próximo ano.
Esta cafeteira velha, enferrujada e perigosa, com total falta de segurança, foi construída em 1972, tendo o primeiro reator entrado em funcionamento em 1981, com encerramento, desmantelamento e selagem previsto para 2010.
A central nuclear de Almaraz teve até agora mais de 2.500 avarias. O ano passado parou duas vezes por graves problemas técnicos que os proprietários se negam cabalmente a esclarecer.
A vida máxima de um reator é de 30 anos. Após este tempo é considerado obsoleto e extremamente perigoso. Ali, em Almaraz, estão a ser utilizadas peças de alumínio e magnésio com visível falta de qualidade. É só atender ao relatório da Comissão Técnica de Segurança Nuclear para depois verificamos a utilização das águas do Tejo, em Arrocampo, e a análise que obrigatoriamente temos de fazer dos resíduos radioativos, mesmo percebendo a tentativa de exploração do urânio junto à nossa fronteira em Alameda de Gárdon e em Retortillo.
O fator sorte tem indiscutivelmente existido e o Governo português pode e deve, antes que seja demasiadamente tarde, acionar a Convenção de Espoo, de 1991, onde se estabelecem avaliações, obrigando os Estados a pronunciarem-se sobre projetos transfronteiriços suscetíveis de terem impacto ambiental, mandando o bom senso que o Governo português dê parecer negativo à pretensão da renovação da licença.
Este tema, na nossa modesta opinião, deve merecer especial destaque na Cimeira Ibérica, a realizar na cidade da Guarda, no próximo mês de junho, sabendo que vai haver eleições a 28 de abril em Espanha e Pedro Sanchez pode já não ser presidente do Governo espanhol.
A central nuclear de Almaraz não pode continuar e, por toda esta cadeia de razões, deve ser imediatamente encerrada, considerando que a morosidade nestes processos está permanentemente presente. Para exemplificar basta olhar para o calendário do términus da central nuclear de Garoña (Burgos), decidido em 2012, com relatório favorável em 2017, com trabalhos previstos para o segundo semestre de 2019.
Almaraz é uma bomba de perigo iminente para toda a zona do interior centro e norte alentejano, em todos os concelhos dos distritos da Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Évora, e uma eventual fuga radioativa pode provocar morte imediata, morte lenta e estragos que irão demorar dezenas de anos a reparar.
É preciso recordar os vários acidentes de Tricastin, Three Mile Island em 1979, Chernobyl em 1986, Fukushima em 2011, a cidade de Seversk, na Sibéria, local secreto e fechado do regime bolchevique onde, ainda hoje, só pode ser visitada por “convite”. A contaminação e mortes em Erwin em 1979, Tokai em 1997, Tsuruga em 1981, Mihama em 2004, obriga-nos a refletir, evocando a tal Santa Bárbara (só nos lembramos dela quando ouvimos os trovões) e, como o ditado popular aconselha, pode ser que, ao tentar remediar, seja já tarde. Demasiadamente tarde.