Passou um ano sobre a tragédia de Pedrógão e já todos percebemos, mesmo quando a falta de pudor leva a transformar os incêndios em arma de arremesso político, que a valorização do interior não se faz por decreto, a partir do Terreiro do Paço.
É preciso ter a visão de defender que a saída para a nossa realidade atual não passa por receitas antigas que já demonstraram a sua ineficácia no passado. É tempo de inovar, de inventar novas soluções, sem calculismos demagógicos e ideias politicamente corretas, que só servirão para uma fuga, em frente, aos problemas.
Aos sucessivos governos faltou vontade politica para criar verdadeiros incentivos estruturantes que fomentassem a deslocalização de serviços e investimentos para o interior. Sem emprego não há futuro e o despovoamento acelera!
Mais por tacticismo que por convicção – não podemos esquecer a recente pugna eleitoral para a presidência da Distrital laranja e todos os pretextos eram bons para mostrar peso político interno –, a Guarda foi o distrito escolhido para as jornadas parlamentares do PSD. Vale mais tarde que nunca… A justificação da opção pela cidade mais alta era óbvia e simples: Incêndios e Interior.
Num distrito em perda populacional há mais de 50 anos, as questões da natalidade e da demografia estão sempre presentes como prioridade. Coesão nacional e coesão territorial, economia e emprego fecharam o sumário para dois dias de debates e reflexão.
E para evitar desmobilização ou perda de tempo – cruel juízo da comunicação social ao referir a presença de menos de metade dos deputados no início das Jornadas – reduziram ao máximo os contactos com a realidade distrital, não visitando nenhum concelho, deslocando-se apenas à maternidade, aos bombeiros e à Coficab.
Há tendências que são bem reveladoras de estados de alma. O Movimento pelo Interior apresenta as suas propostas em Lisboa; o Grupo Parlamentar do PSD reúne num distrito com 14 concelhos e centenas de freguesias e resolve não sair da Guarda.
No distrito dos grandes vinhos, do queijo da serra, da castanha e da vaca jarmelista, a pouca ou nenhuma atenção à agricultura tem leituras políticas. Para quem quer valorizar o interior e enche todos os dias a boca com os custos da interioridade, é pouco, é muito poucochinho.
Mesmo quando o senhor Presidente da República alerta para 2023 como o limite para fazer reviver o interior. Se não formos capazes, proclama, falhámos como país.
P.S.: O professor Marcelo Rebelo de Sousa tem sido exemplar no desempenho das suas funções institucionais e constitucionais. Mas no dia 17 de junho, em Pedrógão, não devia ter pactuado com o sectarismo politico e a falta de educação cívica da presidente da Associação das Vítimas, Nádia Piazza, que não convidou o primeiro-ministro e o presidente da Câmara para a inauguração do monumento de homenagem às vitimas dos incêndios.
Tanta ingratidão bem merecia o repúdio institucional do senhor Presidente da República!
Por: Santinho Pacheco
* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda e antigo Governador Civil da Guarda
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