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2027 – Cidade Europeia da Cultura (Parte I)

Apontamentos sobre a Candidatura da Guarda. Esta reflexão, sobre Cultura e Arte, porque publicada, é também uma proposta de reflexão

Cultura, que nas palavras de Eduardo Lourenço (1999), converte «uma humanidade capaz de se dirigir sozinha, não para o paraíso de onde se supusera expulsa, mas para um futuro cada vez mais liberto dos medos, das opressões, dos males que desde a chamada noite dos tempos se infligiu a si mesma».

A arte é uma «expressão do Belo e o artista um seu criador» (Álvaro Cunhal, 1996)

A Constituição da República Portuguesa, no artigo 73º consagra «o direito à educação e cultura», sendo garantido pelo Estado «o acesso de todos os cidadãos à fruição e criação cultural». A dimensão cultural é essencial ao homem, dizem os filósofos. O património natural e cultural é pertença de todos e cada um de nós tem o direito e a responsabilidade de compreender, apreciar e conservar os seus valores universais. O turismo cultural é um enorme fator de desenvolvimento social e económico, constituindo cerca de 40% do mercado turístico Europeu.

Este vetor constitui-se como:

a) Salvaguarda do património, preservação da identidade, cultura, tradição e herança de uma região.

b) Fator agregador de uma comunidade e promotor de coesão social

c) Agente de regeneração urbana – o nosso Centro histórico, bem precisa… -.

d) Fixa polos de artes e ofícios, ecomuseus e outras dinâmicas sociais nas aldeias

Esta reconversão do tecido social e económico assente na criatividade e na inovação, reforça a competitividade e a criação de emprego qualificado através das indústrias culturais e recreativas, de que tanto precisamos na nossa cidade e nosso territórios Porta da e para a Europa.

O turismo e a cultura estão interligados – o sucesso de um é o sucesso da outra!

A realização cultural – Cidade Europeia da Cultura – pelos apoios e meios que a União Europeia disponibiliza é uma Marca na arte e na cultura.

Por definição é uma ocorrência temporária. Segundo Siderei (1995), permite enaltecer o orgulho da comunidade local, aumentar a interação social, o desenvolvimento da cidade (território), trocar experiências e melhoria de imagem – variáveis determinantes da Qualidade de Vida.

Getz (1997) refere que eventos desta natureza «podem gerar criação de emprego, desenvolvimento económico, aumento das estadias e do tempo de estadia, marketing territorial. Estimula a construção/ reabilitação do património».

A União Europeia identifica a cultura como um dos quatro grandes instrumentos à disposição das cidades para potenciar a sua atratividade.

Desde 1985, múltiplas cidades tiveram a honra de ser designadas Capital Europeia da Cultura, na denominação atual, Cidade Europeia da Cultura.

Esta distinção contempla cidades muito díspares quer em meios culturais, quer em recursos. Todas melhoraram, essencialmente, com o processo de candidatura.

É animador para nós constatar que nas múltiplas realizações o impacto foi maior nas cidades de menor dimensão e com piores condições à partida. A título de exemplo em Portugal – Lisboa, Porto e Guimarães, efetuaram esta realização. Os impactos em Lisboa (1994) estão diluídos. No Porto (2001), ficou a regeneração do espaço público e a Casa da Música. Em Guimarães (2012) a reabilitação urbana e a Plataforma das artes e da criatividade mudaram a face da cidade.

Glasgow, Cidade Europeia em 1995, mais do que mostrar trunfos que não tinha, utilizou a cultura como forma de reconciliar a cidade (em profunda crise na altura) com os seus habitantes, melhorando o dia a dia da cidade e valorizando o ambiente urbano. É considerado um dos maiores sucessos das mais de 50 cidades distinguidas.

Está instalada a corrida (nas palavras de Carlos Fiolhais) para a próxima organização – 2027. O processo de seleção é longo e complexo. Os critérios são conhecidos – Estratégia de Longo Prazo, Dimensão Europeia, Conteúdo Cultural e Artístico, Capacidade de Realização, o Impacto e a Gestão. Na grelha de partida, a par da Guarda, estão: Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Coimbra, Viseu, Leiria, Caldas da Rainha, Oeiras, Cascais, Évora e Faro. A qualidade dos nossos concorrentes só nos pode estimular!

(Sobre a especificidade da nossa candidatura falaremos na Parte II deste artigo)

Por: José Valbom

* Médico

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