Não sou pessoa de me aborrecer com coisa pouca, cada vez mais só o que é realmente importante me consegue tirar do sério.
Contudo, não levem o meu último queijo “babybel” do frigorífico do escritório! Andei a poupá-los a semana toda! E não, não estou louca e ando a inventar que tenho queijos que não existem. Eu sei que ele estava lá, o queijo também sabia que eu voltava, e apostava a vida em como a pessoa que o levou, enquanto o comia, sabia que aquele queijo também sabia que eu ficaria a saber assim que lá fosse por ele.
É que há uma raça nos escritórios que come os “snacks” dos outros. Isto não está circunscrito territorialmente, pois tenho provas de que tanto acontece aqui, na China, como na América! Também não me convencem de que faço parte de um núcleo muito restrito que é atacado por predadores de frigoríficos e armários de escritório.
Tenho andado a estudar a situação, mas admito ainda não ter descoberto se os responsáveis são aqueles que vão de mãos a abanar, à segunda-feira de manhã, e dizem orgulhosamente “eu aqui nem nunca abri o frigorífico”; se são os que – confesso – me fazem pensar se não trabalho com seres do Além, pois nunca os vi meter na boca nem uma pastilha elástica; ou se são mesmo os que têm “snacks” para dar e vender e, vai daí, gostam é de afinfar o dente no iogurte grego de tarte de limão edição limitada do colega – que até estava num canto da última prateleira do frigorífico, não fosse o diabo tecê-las e os amigos do alheio levarem-lhe o lanche de sexta-feira à tarde.
Já vi pessoas barafustar alto, já encontrei papéis no lugar das bolachas desaparecidas com recadinhos maliciosos dirigidos ao bicho-papão, já ouvi dizer que “amor com amor se paga” e que “na regra do bom viver se faz como se vê fazer”. No meu caso particular, volto para a secretária, em silêncio, e fico a olhar para toda a gente e a pensar que entre aquelas gravatas e os aprumados caracóis de cabeleireiro está a pessoa que me comeu o queijo!
“– Sou lá agora mesquinha!” Vamos antes admitir que isto é uma realidade e que, embora seja efetivamente relativa, não deixa de nos causar mossa se estamos mesmo a contar com alguma coisa que sabemos que temos mas que afinal já lá não está quando vamos ver dela.
Peçam! Ou pelo menos reponham o stock. Digam-me simplesmente qualquer coisa, que eu não me importo nada de partilhar a merenda. Depois, não se toca mais no assunto!
Por Joana Dente
@pitangaboss
Jurista / Makeup Artist / Fashion Stylist