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«As amendoeiras em flor é o período em que Foz Côa tem mais visitantes ao longo de vários dias»

Gustavo Duarte, presidente da Câmara de Vila Nova de Foz Côa

P – A época das amendoeiras em flor está de regresso, qual é a novidade deste ano em Vila Nova de Foz Côa?

R – A matriz do evento mantém-se a mesma mas com algumas novidades, desde logo nos artistas que vêm atuar nos três fins-de-semana do programa, mas também na recuperação do desafio “Olhares Cativos” no Museu do Côa. Este ano vamos contar ainda com a colaboração da Fundação Côa Parque nalguma atividades. É a 37ª edição e é um evento que já criou raízes no concelho.

P – Como explica este fenómeno a quem nunca viu as amendoeiras em flor?

R – Penso que a maioria das pessoas já veio a Foz Côa nesta altura do ano para ver este espetáculo deslumbrante criado pelas encostas floridas pela amendoeira, que é a primeira árvore a florir após o Inverno num acontecimento que antecipa a Primavera. Os tons rosa e branco dão um colorido e uma beleza ímpar a estas paisagens. Este certame traz muita gente ao concelho, são milhares de pessoas.

P – Mas como se consegue cativar esses visitantes numa altura do ano em que os municípios da região têm tanta oferta de lazer?

R – Por várias razões. A primeira é que Vila Nova de Foz Côa é a “capital” da amendoeira, é um dos títulos que ostenta, portanto este acontecimento já está interiorizado por muitos portugueses e até alguns espanhóis. Nesta altura preparamos um programa que já diz muito a muita gente, que vem há trinta e tal anos e criou essas raízes. Mas a Câmara também teve a preocupação ao longo destes anos – basta recordar os tempos de crise, em que muitos municípios não faziam atividades por ocasião da amendoeira em flor – de investir neste cartaz porque é uma mais-valia da capital da amendoeira. Sempre dissemos que não era um gasto mas um investimento para manter um programa bastante ambicioso. Estávamos de alguma forma a investir no futuro, desde logo, da hotelaria, restauração e nos produtos regionais. Por outro lado, o objetivo sempre foi não deixar morrer esta atividade. Por isso nunca baixámos a fasquia do investimento na amendoeira em flor, cujo orçamento ronda sempre os 100 a 120 mil euros. Depois, é evidente que o certame se conjuga com o Douro e as gravuras, dois Patrimónios da Humanidade, além do vinho. Isto também contribui para a visibilidade do concelho, portanto só temos que continuar a promover a amendoeira em flor. Não temos forma de quantificar em termos de visitantes, mas no último fim-de-semana, no desfile etnográfico, são milhares e milhares de pessoas que vêm a Foz Côa. Nesse domingo está tudo superlotado na cidade, há autocarros estacionados ao longo de quilómetros…

P – E qual é o impacto económico da movimentação gerada pelas amendoeiras em flor no concelho?

R – É muito grande. O comércio local fatura muito nesta altura do ano. Há a particularidade de ser logo a seguir ao pior mês económico do ano, janeiro, em tempo de frio. As amendoeiras em flor geram uma faturação significativa na restauração, hotelaria e produtores de produtos regionais nestes três fins-de-semana que, na prática, são sempre mais antes ou depois, consoante o estado do tempo. É o período em que Foz Côa tem mais visitantes ao longo de vários dias, disso não há dúvida.

P – O município está a apostar na plantação de novos amendoais, ou a apoiar os produtores?

R – Temos em Vila Nova de Foz Côa três produtos agrícolas excecionais: o vinho, a amêndoa e o azeite. O primeiro não precisa de grandes apoios tal é a sua qualidade e notoriedade, quanto à amendoeira é uma cultura que está a ter muita procura e há muito investimento. Pelo contacto que a Câmara tem com as cooperativas e os produtores, a amêndoa é um produto que está a atrair bastante os agricultores. Há várias plantações, há outras em projeto. A Câmara dá apoio para a plantação porque é do nosso interesse que esta cultura não desapareça, pois se não houver árvores não há amendoeiras em flor. É uma aposta no futuro porque a amendoeira tem uma vertente económica – e o futuro poderá ser risonho, voltando a ser uma mais-valia em termos económicos como já foi – e outra turística, já que atrai muita gente e contribui para dinamizar a economia local.

P – Além da amêndoa, que outros produtos gostaria de ver afirmarem-se como representativos do concelho?

R – Em termos agrícolas são estes três, mas temos também o mel do Alto Douro, que é de excecional qualidade. Só que não tem a importância do vinho, da amêndoa e do azeite, que considero os produtos-chave de Foz Côa pela sua extraordinária qualidade e que permitem ambicionar no futuro uma maior promoção do concelho e gerar mais-valias e rentabilidade aos produtores.

P – O objetivo é associar Foz Côa ao vinho, à amêndoa e ao azeite?

R – Sim, mas incontornavelmente ao Douro, ao xisto, ao Côa, às gravuras rupestres, ao Centro de Alto Rendimento do Pocinho… Felizmente, Foz Côa pode-se orgulhar das muitas potencialidades que tem. Sempre acreditei no futuro deste concelho e da região do Douro Interior, pese embora todas as dificuldades que temos. Há agora o Movimento pelo Desenvolvimento do Interior, a que já aderi pessoalmente e vou levar uma moção à reunião do executivo para a Câmara aderir. É um tema que está na ordem do dia e Foz Côa – tenho dito isto em várias ocasiões – podia fazer a diferença, podia ser o exemplo do novo paradigma para o interior. Aqui há potencialidades enormes nos produtos endógenos, naquilo que chamo os nossos ativos de qualidade ímpar, e depois no turismo, inclusivamente na vertente do turismo cultural. Este é o único concelho com dois Patrimónios Mundiais – não me canso de o repetir porque ainda há muita gente que o desconhece –, felizmente que a Fundação Côa Parque está no caminho certo neste momento e a fazer um trajeto que nos vai conduzir a um aumento bastante grande de visitantes às gravuras. A inclusão do ensino superior e do Turismo de Portugal no Conselho Diretivo já está a fazer diferença e há projetos de alguma ambição, como os passadiços do Côa, que vamos candidatar dentro de dias. Há muito que digo que o que mais me preocupava, além da gestão da Câmara, era a gestão da Fundação porque temos aqui um potencial e um património único que não estávamos a aproveitar e que estávamos, aos poucos, quase a deixar morrer. Penso que neste momento as coisas estão bem encaminhadas e haverá brevemente notícias de acontecimentos que vão ocorrer em Vila Nova de Foz Côa. Também estou à espera que o ministro da Cultura – que há de vir ao Museu do Côa em março inaugurar uma exposição de Júlio Pomar – aceite o desafio que lhe fiz há uns anos para Foz Côa, sendo este o único concelho do país com dois Patrimónios Mundiais, ser palco da conferência de abertura do Ano Europeu do Património Cultural, que se celebra em 2018. O senhor ministro não se comprometeu, até por motivos logísticos, mas prometeu que muitas das atividades dessa efeméride fossem em Foz Côa, o que faz todo o sentido. Acredito que isso se vá concretizar. Há uma atividade na Fundação que nos dá algum conforto e nos augura bons tempos para a promoção da região. Há depois o Centro de Alto de Rendimento do Pocinho, que está em pleno e vai acolher a semana da arbitragem a nível nacional, organizada pela Liga de Clubes e o Conselho de Arbitragem. A 15 de março vamos também fazer o “trail” Foz Côa Douro Adventure, organizado pelo ultramaratonista Carlos Sá. A prova terá três dias e regressará em outubro durante oito dias, em que se prevê a participação de 150 pessoas, maioritariamente estrangeiros.

P – Portanto, o turismo é a grande aposta de divulgação do concelho. A festa da amendoeira acaba, no fundo, por ser uma alavanca de promoção?

R – Também é, com uma raiz mais popular. Temos que satisfazer todos os públicos. É um evento que atrai milhares de visitantes ao concelho. Não temos dados concretos, mas há muitos anos atrás estimava-se que só no último dia, com a realização do desfile etnográfico, houvesse mais de 20 mil pessoas em Vila Nova de Foz Côa. Se somarmos isto aos outros fins-de-semana temos uma ideia da dimensão do evento e das pessoas que nos visitam por ocasião das amendoeiras em flor. Mas o concelho tem muitos mais atrativos, pois o que temos é um produto que nos distingue a nível regional e nacional. Acho que hoje já estamos em condições de vender este destino turístico.

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