Dos materiais de construção, armas e ferramentas aos alimentos, energia e medicamentos, as árvores têm servido os seres humanos de inúmeras formas durante milhares de anos. Desempenharam um papel importante no desenvolvimento das sociedades, contribuindo para a nossa defesa e para a nossa diversão, permitindo-nos realizar grandes viagens e ajudando-nos até a criar impérios. Olhemos para algumas destas aplicações.
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A madeira contribui significativamente para a modo como os humanos descobriram e exploraram o mundo e tem desempenhado um papel vital no transporte de pessoas e bens. Os trenós de madeira foram os primeiros veículos conhecidos. Por volta de 3500 a.C. os sumérios construíram rodas com discos de madeira. Estes rodados, puxados por animais ou humanos, transportavam cargas pesadas a maiores distâncias e mais depressa do que antes. Depois, contribuíram para o desenvolvimento do comércio, fomentaram a construção e possibilitaram a exploração de regiões distantes, e por fim, a criação de impérios. Já em 2000 a.C. os egípcios utilizavam carros de madeira leves, quer para viajar, quer para a guerra. As carroças e carruagens de madeira garantiram o transporte até ao século XX. De madeira compunha-se também grande parte dos primeiros automóveis modernos. Os seres humanos tentaram voar em engenhos de madeira.
Música e diversão
Os instrumentos musicais de madeira figuram em culturas e civilizações em todo o mundo, desde a Antiguidade até aos nossos dias. A sua variedade estende-se do pau-de-chuva africano, um tubo de madeira fechado contendo feijões ou contas que produz um som quando é virado, a instrumentos como um violino de Stradivarius ou um piano de cauda. As propriedades acústicas da madeira explicam a sua eleição pelos fabricantes de instrumentos musicais. O didgeridoo, um instrumento de sopro dos aborígenes australianos, e as caixas de ressonância de instrumentos de cordas, como os violinos, os violoncelos e as violas, baseiam-se na capacidade vibratória da madeira.
Pasta e papel
A manufatura de papel utiliza processos desenvolvidos durante o século XIX e aperfeiçoados desde então. A disponibilidade de papel barato teve um impacto significativo na sociedade moderna. Das árvores provém muita, mas não toda, da matéria-prima para o papel. As árvores selecionadas para a produção de pasta são cortadas, descascadas e transformadas em finas lascas de madeira. As lascas são levadas para as fábricas de pasta de papel, onde, depois de misturadas com água e químicos, são submetidas a pressão e reduzidas a pasta. Esta é levada, branqueada, corada e tratada com aditivos até formar uma mistura de fibras. A seguir, espalha-se sobre um painel de rede e inicia-se o processo de secagem. À medida que este avança, o papel vai-se formando. Antes da introdução de maquinaria, o processo era manual e a pasta de fibras era seca num painel ou molde sustido por operários. O tipo e a qualidade do papel produzido dependem das fibras usadas e do tratamento de secagem do material. A localização das fábricas de pasta de papel costuma suscitar controvérsia devido à poluição ambiental causada, por exemplo, pelo cloro presente nos efluentes produzidos.
Medicamentos
Muito do que sabemos sobre o valor medicinal das plantas provém da sabedoria tradicional transmitida ao longo das gerações. Vários desses medicamentos estão disponíveis comercialmente há mais de um século. A casca da perenifólia cinchona produz quinino, utilizado no combate à malária desde meados do século XVII. A disponibilidade de uma forma de quinino em pó em meados do século XIX permitiu aos europeus viver em segurança em regiões tropicais afetadas pela malária e deu um impulso significativo à colonização da África e da Ásia. Embora o quinino tenha sido quase substituído pela cloroquina, ele continua a ser usado quando as estirpes de malária se revelam resistentes a esta. O analgésico aspirina – ácido acetilsalicílico – provém originariamente de uma árvore. A salicina, extraída do vimeiro-branco, é o ingrediente básico da aspirina.
Com estas diferentes aplicações percebe-se a importância que as árvores desempenharam e continuam a desempenhar no dia-a-dia da sociedade.
Por: António Costa