Num ano eleitoral, as expectativas são pelo menos diferentes do que num qualquer ano, em que não crescem promessas, não se compram fitas e não são necessárias tesouras extras. Mas os desafios que se colocam mostram que o foco político nem sempre coincide como o desejo ou os desejos dos cidadãos que já não acreditam em beijos ou apertos de mão em feiras, mercados e ouros locais, por rostos, alguns pouco conhecidos, em ocasiões onde começa a ser raro ouvir: “A sua cara não é me estranha”.
Nos dias que correm, em pleno século XXI, onde as máquinas substituem cada vez mais as pessoas, sinal de um novo tempo, mas a verdade é que o ser humano tem tudo, ou quase tudo, o que pode desejar e pelo caminho foi perdendo o que realmente necessita. Senão vejamos: fecharam laboratórios de luta contra a tuberculose e morre-se novamente com a doença. Sabemos tudo sobre sexo desde os bancos da escola e as doenças infecto-contagiosas não param de aumentar e em grupos da população cada mais jovens. Da mesma forma que “despejaram” os centros da cidade e se criaram grandes e modernas superfícies comerciais, a par de uma “estratégia urbanística” que deixa muito a desejar, o coração das urbes definha. A urgência de recuperar o comércio de proximidade, de reavivar as velhas ruas onde só a história permanece e tudo o resto se perdeu na espuma dos dias.
Ora aqui está um desafio que deve merecer dos autarcas e de outros responsáveis melhor acolhimento nas apostas para um novo ano. Uma região como a que habitamos precisa “como pão para a boca” de novos investimentos, públicos e privados, só assim conseguirá criar postos de trabalho, contribuir para a diminuição das taxas de desemprego que se registam e estancar ou atenuar a sangria desatada que vem sendo acometida. É preciso criar verdadeiras condições que levem a que vários cidadãos se sintam atraídos para este território. Transformar as debilidades em potencialidades é uma tarefa para a qual todos estamos convocados. As contínuas “guerras de alecrim e manjerona” de muitos atores regionais, em diversos domínios, com a ideia de que o meu é melhor que o teu e não que os objetivos alcançados num concelho são bons para os restantes, têm e muito contribuído para o atual estado de coisas.
2017 vai ser um ano de mudanças e de desafios para a Beira Interior. É no primeiro semestre do ano que vai ser conhecida a primeira avaliação das medidas apresentadas pela Unidade de Missão para a Valorização do Interior, depois de conhecido o impacto do plano nacional para a coesão territorial que foi apresentado em novembro do ano passado. As eleições autárquicas são outro dos temas que promete “aquecer” a agenda. Quanto a candidatos, existem algumas incógnitas nos dois distritos (Guarda e Castelo Branco). No Fundão, quem vai ser o candidato do PS opositor ao atual presidente da autarquia Paulo Fernandes, que, se vencer, vai ou não recandidatar-se à presidência da CIM das Beiras e Serra da Estrela? Na Covilhã, de que forma Carlos Pinto se vai envolver no processo? Amândio Melo volta ou não a candidatar-se ao cargo de presidente da Câmara de Belmonte, que ocupou durante vários anos? Na Guarda, Álvaro Amaro recandidata-se? Em Castelo Branco, Luís Correia, atual presidente da Câmara, avança, mas contra quem? As respostas vão ser conhecidas em breve.
O arranque dos trabalhos de eletrificação do troço Covilhã/Guarda da linha da Beira Baixa, que vem completar a ligação à linha da Beira Alta, que durante uma década esperou por melhores dias pode ser um instrumento determinante para melhorar a mobilidade dentro da região e reforçar a capacidade de exportação das empresas para os restantes países da Europa sem os custos de contexto associados à introdução das portagens.
O ano que está a iniciar-se pode ainda ser determinante para a criação da Unidade Local de Saúde da Cova da Beira, que pode trazer um novo modelo de articulação para toda a região. Mudanças na saúde que podem também trazer mudanças no Conselho de Administração da ULS da Guarda, onde vários sectores do PS defendem a substituição de Carlos Rodrigues.
A possibilidade da Câmara da Guarda comprar o edifício do antigo Hotel Turismo e a integração dos municípios nos órgãos de gestão das áreas protegidas são questões para analisar com maior detalhe, assim como as consequências da cisão do sistema multimunicipal das Águas de Lisboa e Vale do Tejo”, aprovada em finais do ano passado.
Não como mera rotina de passar mais um ano de calendário, mas com o desejo e a esperança, que deve continuar a ser um dos alimentos dos nossos dias, que 2017 seja um tempo de afirmação da “Beira Interior” e a expectativa de que seja mais Beira e menos interior.
Paulo Pinheiro
Jornalista, coordenador da RCB – Rádio Cova da Beira