Há um mês atrás, a revista “Forbes” apresentou o seu habitual ranking anual das pessoas mais poderosas do mundo. Findo 2016, encabeça o top 5 da lista, e pelo quarto ano consecutivo, Vladimir Putin, presidente da Federação Russa, seguido do presidente eleito dos EUA Donald Trump (que será empossado esta sexta-feira), da chanceler alemã Angela Merkel, do presidente da China Xi Jinping e, por fim, do Papa Francisco. Todos os rankings são discutíveis e poderia intrigar por que razão Putin é estimado como mais poderoso do que os líderes políticos de três países economicamente muito mais poderosos do que a Rússia.
Na verdade, tanto os EUA como a UE fazem sensivelmente 10 vezes a economia russa, mesmo a Alemanha sozinha faz duas vezes e meia a economia da Rússia. Contudo, é Putin quem consegue ignorar, com toda a indiferença, as sanções que a União Europeia, os EUA, a Nova Zelândia, a Austrália e o Canadá aplicaram à Rússia em 2014 na sequência dos acontecimentos na Crimeia. Se serviram para alguma coisa, as sanções económicas demonstraram que a Rússia pode viver sem a União Europeia, mas já o contrário, designadamente no que toca a dependência energética, ficou por demonstrar. É também Putin quem se permite decidir, sem qualquer oposição digna desse nome, bombardeios pesados sobre Alepo e a população civil desta cidade história e mais populosa da Síria, determinando assim a vitória de Bashar Al-Assad e a continuidade do seu regime brutal.
Não bastassem estes argumentos, a prova dos nove chega-nos nas notícias mais frescas – Olhem lá o Donald Trump a fazer o papel que Putin quer que ele faça: engalfinhar-se com Angela Merkel e Xi Jinping, que naturalmente não podem deixar de lhe dar troco. Primeiro, criticando a política de acolhimento de refugiados de Merkel, depois visando as exportações chinesas com medidas protecionistas. O mundo pode estar a virar-se ao contrário: o bilionário Trump, líder da maior potência económica, a defender o condicionamento do mercado livre pelo protecionismo, e Xi Jinping, líder da República Popular da China, república socialista de partido único – Partido Comunista Chinês – a afirmar, em pleno encontro de Davos, que o protecionismo é como «trancar-se num quarto escuro»! Bem que a “Forbes” tinha razão. Trump arrisca-se a ter por maior utilidade fazer reluzir o mais poderoso do mundo, Putin.
Por: André Barata