No dia em que escrevo sinto o ego da alma lusitana (seja lá isso o que for…) bem afagado e razões não faltam para que assim seja. Vejamos:
António Guterres acaba de subir ao posto mais alto da Organização das Nações Unidas. Depois de um processo longo e nada fácil, quantas vezes navegando por águas alterosas e lamacentas, evitando aqui e ali escolhos cirurgicamente criados, levou o barco a bom porto. E deixemo-nos, nós os seus compatriotas, da tão disseminada humildade pequenina e assumamos o orgulho de ver um de nós em tão alto cargo. O nosso engenheiro soube tecer ao longo de toda uma vida a manta das relações que o haveriam de conduzir a este posto. Nos últimos anos cerziu-a com o modo exemplar como desempenhou o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, que lhe deu notoriedade a nível mundial. Mas um cerzir que terá começado muito antes, quando foi capaz de colocar na agenda internacional o problema de Timor, décadas depois daquele pedaço final do império ter sido abandonado à sua sorte.
Resta, pois, expressar-lhe votos dos maiores sucessos no desempenho de um cargo que não se afigura nada fácil nos tempos que correm com focos de instabilidade um pouco por todo o mundo. Acresce o esperar para ver se o maior deles não estará dentro de portas, isto é, no país que alberga a sede da ONU. Permitam-me um trocadilho: esperemos para ver se não vira por aí uma “trumpalhada” que lhe cause alguns engulhos e amargos de boca…
Num outro patamar, também hoje soubemos que três futebolistas portugueses integram a lista dos considerados trinta melhores do mundo. Destes, um, o suspeito do costume, alcandorou-se, mais uma vez, ao lugar mais alto do pódio.
Curioso é o facto de, dos três, apenas um continuar a jogar em Portugal. Também aqui, neste particular futebolístico, parece estarmos a exportar os nossos melhores ativos. Gente que sabe, por esse mundo fora, mostrar qualidade. Também não deixa de ser verdade que assim, desta forma, empobrecem o país que os viu nascer e crescer e que neles investiu.
Nada de novo afinal!… Não se passa o mesmo com milhares de outros compatriotas que, depois de terem feito formação em Portugal, são empurrados para além-fronteiras?… Aí se afirmam nos mais variados campos num novo movimento migratório que faz lembrar o da década de sessenta. Agora, é certo, uma emigração de gente com outras qualificações, mas que, tal como então, continua a integrar-se plenamente nas sociedades para onde decidiram sair deixando para trás a pequenez (ou tacanhez?…) de um país onde não enxergam oportunidades.
Ao fim e ao cabo, talvez seja isto a verdadeira “alma lusitana”…
Por: Norberto Gonçalves