Os argumentos da falência do governo Sócrates aparentemente eram reais. Havia uma contingência feroz que envolveu a subida dos combustíveis, um juro da dívida altíssimo, a ausência de compra de títulos de dívida pelo Banco Central Europeu, a presença de uma Ângela Merkel defensora de austeridade para impedir o acumular de gastos excessivos em países do Sul mas também em alguns do Centro, como a França.
Este discurso que não colheu os eleitores de Sócrates e que foi diminuído, jocosamente arredondado por Passos Coelho, transporta-nos agora ao ridículo de uma oposição martirizada.
Para não darem uma cambalhota argumentativa não podem referir que uma parte fundamental do “brilharete” da Geringonça chega sobretudo (mas não só) da melhoria das doenças prévias: barril de crude a metade de 2009, juros da dívida baixíssimos, “spread” negativo em muitos casos para o consumidor, Merkel à beira de eleições abrandando os processos incendiários e persecutórios do Sul, BCE a comprar dívida dos países menos ricos da Europa.
Estas realidades valem mais que todos os gastos públicos do Estado com Saúde e Ensino. Os bancos e as suas crises financeiras também contribuíram para um descontrolo do dinheiro do Estado e as soluções escolhidas parecem ter custado mais de 11 milhões de euros no acumular de siglas derrotadas e em breve esquecidas. Claro que a Geringonça vai ter de fazer face ao Banco Novo, ao Montepio e à CGD. Mas tem uma folga naquilo que é obrigada a comprar ao exterior. Por outro lado, perito no jogo da toupeira, o governo escolheu morder com impostos menos vistosos e mais fáceis de vender no populismo. “Os ricos que paguem a crise”. Assim, vão ao património e vão às contas dos ricos e dos empresários, aumentando reformas, pensões e diminuindo IRS. Se Passos Coelho não souber mudar o seu discurso e aceitar a forma demagógica como atacou José Sócrates (que não estou a afirmar ser um menino de coro, mas aguardando a justiça), o PSD vai entrar numa descida descontrolada de disparates e de ideias indefensáveis. Era possível fazer diferente? Está provado que sim! Porquê? Vamos às grandes discussões, mas com um discurso aberto, limpo e sem “politicamente correto”.
Por: Diogo Cabrita