Nesta quadra natalícia encontramos diversos tipos de presépios espalhados pelos espaços públicos e, para muitos, o presépio ainda é um elemento indispensável nos nossos lares, evocador da celebração do nascimento de Jesus. Mas a tradição do presépio, como hoje o conhecemos, apenas remonta ao século XVI. As peregrinações ao local em Belém onde o Salvador teria nascido aparecem testemunhadas a partir do século III e, no século seguinte, já encontramos diversas representações pictóricas quer da Virgem Maria quer da Adoração dos Reis Magos, as primeiras nas catacumbas de Roma, onde se reuniam clandestinamente os primeiros Cristãos; pois só no ano de 313, com o Édito de Milão, o imperador Constantino decreta o fim da perseguição oficial ao Cristianismo.
Também em Roma, no século VII, em torno a uma relíquia proveniente da gruta de Belém, construiu-se a primeira réplica na igreja de Santa Maria Maggiore, à qual foi mais tarde acrescentada uma manjedoura. Mas o episódio mais significativo desta história atribui-se a São Francisco de Assis que, em 1223, celebrou a véspera do Natal com a comunidade local na floresta, onde se colocaram uma manjedoura, um boi e um burro, recriando assim a cena bíblica do Nascimento, embora sem fundamentação nos Evangelhos. Das representações cénicas espontâneas do final da Idade Média evoluir-se-ia na Época Moderna para as composições a que designamos presépios, tão pormenorizadas que o crente pode compreender e participar da narrativa sagrada. As figuras foram independentizando-se dos altares, ganharam valores plásticos, enquadraram-se em paisagens e construções, complementaram-se com diversos adereços, organizaram-se em grupos e cenas, usualmente desde a Anunciação até à fuga para o Egito.
Em Portugal o presépio era um tema muito popular, possivelmente devido à importante presença dos Franciscanos e, no período barroco, durante o reinado de D. João V, encontramos presépios em diversas instituições eclesiásticas e em casas particulares, montados no período do Natal. Muitos desses exemplares foram desmantelados, e as inúmeras figuras que os compunham ficaram dispersas, mas ainda subsistem alguns dos mais completos como o presépio da Basílica da Estrela (c. 1782), com cerca de 500 figurantes, da autoria do escultor régio Machado de Castro. De grande realismo e composições elaboradas, estes presépios estavam hierarquicamente organizados, apresentando como tema central a gruta com o Menino, a Virgem Maria e São José, os animais e os anjos; seguindo-se o cortejo dos Reis Magos; o grupo dos pastores e camponeses; e em jeito pitoresco e de grande liberdade imaginativa, os aldeãos nas suas tarefas quotidianas.
Tânia Saraiva*
* Historiadora da arte