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E tirar olhos também vale?

Madalena Ferreira

Por muito que o argumentário político o contrarie, a assunção pública da verdade ou sua divulgação antecipada esvazia o poder da descoberta e desarma o adversário. Não, não foi Maquiavel, o autor do ensinamento, mas os príncipes da vida política insistem em varrer o lixo para debaixo do tapete e atirar com poeira para os olhos de quem vota.

Serve o intróito para preambular este exercício público de espanto com a atitude do socialista António Costa que quer ser primeiro-ministro. A que propósito é que o homem, sendo amigo confesso de José Sócrates, deixou de o visitar e o baniu completamente da sua vida pública? Por um lado nunca se demarcou da governação que cessou com o pedido de ajuda externa ao país, mas por outro lado não quer “misturas” com o camarada enredado nas teias da lei e que insiste em ser seu apoiante declarado. E, se António Costa viesse a terreiro dizer que, houvesse o que houvesse, nada beliscaria a relação de amizade com José Sócrates e que o processo judicial não deveria interferir no julgamento das propostas socialistas para Portugal?

Em política não se pode dizer tudo? Mas devia, até para evitar julgamentos precipitados e assassinatos de caráter que podem ser fatais. Duvido, aliás, que o recente processo de sucessão na liderança do partido, fratricida a meu ver, não tenha efeitos na apreciação global da personalidade que vai a votos. Mas há mais. Ainda em pré-campanha, o candidato do PS veio à Guarda e deu de caras com o deputado Paulo Campos que ignorou em absoluto. Sabe-se que o único parlamentar socialista eleito pelo círculo eleitoral da Guarda é amigo de Sócrates e que o tema da prisão do antigo primeiro-ministro, além de já ter valido alguns engulhos à coligação de direita, é tabu para os socialistas.

Mas a questão que se põe é a seguinte. Não houve nada na vida parlamentar do antigo secretário de Estado das Obras Públicas que pudesse ser valorizado a favor da campanha socialista na Guarda? Não? Pois, até se percebe que, sendo totalmente desconhecida a atividade parlamentar de Paulo Campos na defesa do eleitorado da Guarda, fosse preferível manter silêncio, mas nem uma referência em nome da união do partido? Não, António Costa preferiu voltar ao distrito e atacar o cabeça de lista da coligação PSD/CDS por causa da malfadada expressão “peste grisalha”?

Carlos Peixoto não pesou as palavras é certo, mas alguém acredita que pretendeu insultar os idosos da idade do pai ou da mãe, quando ele próprio, embora jovem, é já uma vítima da dita cuja? Felizmente que também são os cabelos brancos de muitos eleitores a avaliar quem faz, quem diz que faz, quem não faz o que diz e, quem faz ou, pura e simplesmente, se recusa a aceitar a política do vale tudo.

Por: Madalena Ferreira, correspondente da SIC e “Jornal de Notícias” na Guarda

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