Na minha última crónica abordei diversos projetos museológicos e de recuperação patrimonial em curso, e terminei mencionando o Palácio Nacional de Queluz e o seu amplo programa de requalificação, iniciado logo em janeiro deste ano, com um orçamento de 2,8 milhões de euros.
A imperiosa intervenção no conjunto monumental – seguramente um dos mais importantes do Barroco da segunda metade do século XVIII – era há muito apontada face ao estado de degradação geral do palácio (alvo de um incêndio em 1934 que obrigou à sua reconstrução parcial). Mas foi com a entrega da exploração do Palácio de Queluz (ainda que «sem transmissão dos correspondentes direitos de propriedade», Decreto-Lei nº 205/2012) à empresa pública Parques de Sintra-Monte da Lua – responsável pela gestão de vários parques e palácios dentro do perímetro da Paisagem Cultural de Sintra classificada pela UNESCO – em 2012, que se iniciou um exaustivo diagnóstico para identificar as reais necessidades.
Ao longo dos 8 anos que presidiu à Parques de Sintra, António Lamas (desde outubro de 2014 presidente do Centro Cultural de Belém) defendeu abertamente um modelo de sustentabilidade e de estratégia que passa pelo “círculo virtuoso”: mais património restaurado equivale a mais visitantes, que por sua vez equivalem a mais receitas. Recorde-se que a Parques de Sintra levou a cabo diversos programas de restauro recorrendo a apoios, sobretudo internacionais, tal foi o caso do Parque e do Palácio de Monserrate ou do Chalet da Condessa d’ Edla (apoios EEA Grants), entre outras iniciativas que contribuíram para o reconhecimento internacional com a atribuição do World Travel Award para “Melhor Empresa do Mundo em Conservação” em 2013. Assim, a recuperação e manutenção dos parques e palácios são fundamentais para a Parques de Sintra, tendo em vista a capacidade de atração de visitantes, pois dela depende a sua (auto)sustentabilidade económica, dado não auferir dotações orçamentais por parte do Estado.
O caso do Palácio de Queluz revestia-se de especial interesse, quer pela importância histórico-artística do monumento quer pelo baixo número de visitantes que recebia em comparação com os equipamentos centrados na vila de Sintra. Deste modo, o atual projeto tem objetivos plurais: por um lado, a profunda recuperação e salvaguarda patrimonial de um bem único do ponto de vista histórico e simbólico, com intervenções nos jardins, nas fachadas, coberturas, cantarias, modernização de infraestruturas de energia, comunicações, saneamento, etc.; por outro lado, na valorização das suas potencialidades de uso e fruição, com a disponibilização de uma série de estruturas de apoio ao visitante e de melhoramento do espaço cultural (auditório, cafetaria…), tendo no horizonte o aumento de visitas e maiores benefícios económicos.
Uma das intenções resultantes do projeto de restauro é a uniformização cromática do Palácio de Queluz, que ao longo dos anos foi sofrendo várias intervenções pontuais. Resultado de investigações e estudos anteriores, já se sabia que originalmente, pelo menos nas fachadas interiores voltadas aos jardins, apresentava uma coloração azul, com painéis em ocre e portadas a verde, tal como é possível apreciar num desenho aguarelado de 1836, conservado na Torre do Tombo, e corroborado por análises de laboratório a fragmentos de rebocos originais encontrados em diversas campanhas de restauro desde 1987.
Ficamos então a aguardar por esse “novo” Palácio de Queluz!
Tânia Saraiva*
* Historiadora e crítica de arte. Professora universitária