Segundo os últimos dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) a taxa de desemprego em Portugal era de 14,1% no mês de Fevereiro último. Contudo, de acordo com as diretrizes do Fundo Monetário Internacional (FMI), para se obter a taxa real de desemprego do país a essa taxa deve juntar-se a chamada “fraqueza do mercado de trabalho” ou seja “a taxa de debilidade” desse mercado, conceitos que têm que ver com a contagem dos “desencorajados”, que já não procuram emprego por desânimo, e dos “subempregados” que não tendo emprego estão ‘entretidos’ com alguma atividade que lhes ajuda a passar o tempo sem lhes dar qualquer rendimento. Ora segundo o “Dinheiro Vivo” de 4-4-2015 essa “dimensão oculta”, atinge nesta altura cerca de 545,6 milhares de desempregados, valor que junto aos 726 milhares oficiais eleva a taxa real de desemprego para cerca dos 22,2%. E este valor, nesta quadra Pascal da Ressureição, é efetivamente fator de enorme preocupação para 1,2716 milhões de portugueses que não conseguem alimentar os filhos ou assegurar o sustento condigno das suas esposas, maridos, pais e famílias. E se não recebem os seus salários não dão o seu contributo para a sustentabilidade da segurança social – o mesmo é dizer que não dão o seu contributo para o pagamento das pensões de velhice, invalidez e outras que a Segurança Social/CNP tem que assegurar a alguns milhões de portugueses espalhados por todo o país. De referir ainda a preocupação pela facto de 80,7 mil destas 545,6 mil pessoas, serem jovens licenciados (quando em 2011 eram ‘apenas’ 54 mil).
As estatísticas do INE mostram que apesar de os consumidores estarem mais otimistas em relação à situação económica do país e do seu próprio agregado familiar – estando inclusivamente a aumentar os seus níveis de consumo, nomeadamente de bens duradouros, o que é normal para uma economia que se quer em recuperação – a verdade é que os números do próprio INE contrariam esta tese ou esta perceção pois depois de vários meses em queda, o desemprego inverteu essa tendência na parte final do ano passado e nos primeiros meses de 2015, como, aliás, se verificou em fevereiro de 2015 mês em que a t.d. subiu para os 14,1% da população ativa. Esta estabilização da taxa de desemprego em valores acima dos dois dígitos é preocupante e poderá ser aquilo a que a OCDE e o Banco de Portugal afirmam ser a subida em flecha do desemprego estrutural em Portugal. A título de informação, e para quem não sabe o que significa este tipo de expressão, refira-se que desemprego estrutural é aquele que fica, mesmo depois da inversão do ciclo económico (depois de ultrapassada a atual crise), um fenómeno muito difícil de debelar pois afeta sobretudo pessoas que estão sem trabalho e não têm perspectiva de regressar ao mercado, que têm qualificações muito baixas, que já não procuradas pelas empresas e que estão em concorrência com jovens na casa dos 20 anos ou até mais novos e com capacidades e habilitações geralmente muito superiores. De facto há muitas pessoas que continuarão a não ter oportunidades de emprego, que carecem urgentemente de uma reconversão profissional seja através de uma reafectação de verbas comunitárias, de um maior apoio na criação do próprio emprego, ou de uma qualquer solução de microcrédito. Para mais de 10% da população ativa a recuperação da economia é apenas uma miragem ou um número que não quer dizer absolutamente nada.
Entretanto lá fora, há sinais contraditórios pois enquanto nos EUA, um dos motores do emprego mundial, o ritmo de criação de postos de trabalho está a cair para apenas 126 mil empregos em Março, o nível mais baixo desde Dezembro de 2013, na Alemanha, o motor do emprego e da economia na Europa, o desemprego caiu para o nível mais baixo desde a reunificação, tendo atingido 6,4% em Março, a taxa mais baixa desde 1990, e na Zona Euro a t.d. caiu ligeiramente para 11,3% em Fevereiro deste ano tendo atingido o valor mais baixo desde Maio de 2012.
Mas Qual o Desemprego Real na Beira Interior?
Na Beira Interior (BI) o principal concelho em número de desempregados em Fevereiro de 2015, segundo o IEFP, continua a ser o de C. Branco com 3104 pessoas (25%), seguido da Covilhã com 3031 (25%), da Guarda com 2200 (18%), do Fundão com 1638 (13%), de Seia com 1061 (9%), de Gouveia com 568 (5%), do Sabugal com 394 (3%) e de Trancoso com 280 (2%). De referir que dos 12276 desempregados destes 8 principais municípios 49% são homens, 51% são mulheres, 48% são desempregados de curta duração (menos de 1 ano), 52% são desempregados de longa duração (mais de 1 ano), 13% procuram o 1º emprego e 87% já alguma vez trabalharam. Mas se a estes valores aplicarmos as diretrizes do FMI ou seja a mesma regra usada para estimar os 22,2% de desemprego real em Portugal com a junção dos “desencorajados” e dos “subempregados” para determinar os números do desemprego real dos concelhos da Beira Interior então teremos os seguintes valores para o passado mês de Fevereiro: C. Branco: 4130, Covilhã: 4030, Guarda: 2927, Fundão: 2180, Seia: 1412, Gouveia: 756, Sabugal: 524 e Trancoso: 373. Por incluírem a taxa de “debilidade do país” estes valores são cerca de 33,1% mais elevados do que os valores registados nas estatísticas oficias do desemprego do IEFP, num total para estes concelhos mais urbanos de mais 4059 pessoas sem emprego… Estes números dão para pensar na amargura por que estão a passar tantas famílias de desempregados nesta altura da Ressureição na B. Interior…
Por: José R. Pires Manso
* Prof. Catedrático da Universidade da Beira Interior e Responsável pelo ODES -Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social (UBI).