1. Os custos com energia são um dos maiores problemas da economia nacional. Aliás, quando uma empresa estrangeira olha para Portugal como local a escolher para instalar uma empresa facilmente desiste porque os chamados “custos de contexto” são dos mais altos da Europa; quando uma empresa decide onde instalar o seu investimento prefere pagar salários mais altos e estar no centro da Europa (ou perto) com custos de contexto baixos – logística, tempo, transporte e especialmente energia.
O petróleo desceu para preços históricos, mas os combustíveis baixaram por poucos dias e já estão de novo em preços elevadíssimos; as barragens estão cheias e produziram mais energia do que nunca e o recurso às renováveis é cada vez maior, a eletricidade ao consumidor aumentou e nunca foi tão cara em Portugal. O estranho é que ninguém reclama. Na Assembleia da República os deputados deviam perguntar ao governo porque é que isto acontece, mas como estamos em crise e o Estado cobra mais impostos… todos pactuam com a energia cara.
Pior, como afirmou há dias Henrique Gomes, ex-secretário de Estado (que saiu do atual governo por ter dado guerra aos grandes interesses do sector energético): «Se a EDP Renováveis vende a energia eólica a 60 euros o MWh em Espanha, nos Estados Unidos a cerca de 50 euros, porque é que em Portugal vende a 100 euros?». A elevada carga fiscal não explica tudo. É altura de os cidadãos começarem a reclamar contra o abuso e nepotismo dos cartéis.
2. A “baixa densidade” passou a ser o novo rótulo dos territórios do interior – ao que parece as mentes criativas da governação viam a interioridade como um anátema e um epíteto de carga negativa e decidiram que com uma nova designação todos iremos conviver melhor com a estigmatização a que os governos ancestralmente votaram o interior (ou será que foi aos territórios de baixa densidade?). O chavão é o que menos interessa, o que sim é relevante é saber se há políticas que possam alterar o desígnio das pessoas e empresas que, resilientes, teimam em não deixar que o interior se transforme numa mera reserva natural onde a flora arde no verão e a desertificação cresce todo ano.
O governo publicou o mapa da baixa densidade (que inclui concelhos como Santiago do Cacém ou Vila do Bispo, no litoral) e exclui Viseu, no interior, com a promessa de que irão ser implementadas medidas de apoio com financiamento do “Portugal 2020”. Os 164 concelhos a “desencravar” estão há muito à espera de programas de desenvolvimento, mas a verdade é que Portugal continua a investir em Lisboa e pouco mais. A majoração de 10 por cento para empresas que invistam nos concelhos de baixa densidade pode ser um contributo para alguma animação económica, mas enquanto o Estado centralizado e centralizador não reorientar o investimento público para fora dos grandes centros e enquanto não houver descentralização da administração pública nenhum dos 164 concelhos conseguirá inverter a tendência de desertificação e empobrecimento. Foram centenas de anos de centralização cuja inversão não cabe no “2020” ou em qualquer outro programa que passe apenas pelo apoio às poucas e pequenas empresas que sufocam no interior.
Luis Baptista-Martins
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