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O que nos espera

Editorial

1. A mudança de ano é sempre um bom momento para apontar novas metas e objetivos, para refletir sobre o ano que findou e perspetivar o ano que começa e para acreditar que com o ano novo tudo será melhor e chegam boas novas.

Ora, 2015 não será o «ano do resto das nossas vidas», no sentido de que tudo será excecional, mas, expetantes, acreditamos que será um ano com menos sacrifícios, com menos dificuldades e com menos esforços para todos, ainda que não haja razões objetivas para sermos otimistas. Será um ano de eleições, por definição mais despesista dos que o resto da legislatura, e em que se adivinham mudanças. Será um ano em que as políticas de austeridade deverão dar lugar às opções de progresso e crescimento sustentado, assente em reformas e escolhas determinantes para o desenvolvimento do país e possíveis com a ajuda dos fundos comunitários que, afinal, vão voltar a jorrar sobre o retângulo à beira-mar plantado. Será um ano em que Portugal irá poupar perto de quatro mil milhões de euros em importação de petróleo e, por isso, poderá, excecionalmente, fazer o que até agora, com toda a austeridade, não conseguiu: controlar a despesa, diminuir a dívida externa e baixar decididamente o défice (por cada 10 dólares que cai o barril, a economia portuguesa cresce 0,2 pontos). E ainda: confirmar que a aposta nas energias renováveis fez sentido (que serão da máxima relevância com a implementação de interconexões com a Europa e que permitirão a exportação de eletricidade para lá dos Pirenéus).

No entanto, paradoxalmente, 2015 será um ano de novas dificuldades para a bolsa do cidadão e das empresas. As tarifas de eletricidade serão agravadas de forma substancial – enquanto os consumidores serão obrigados a transitar para o “mercado livre” aparentemente mais competitivo e com preços mais baixos, mas que na prática irá ser mais caro (pelos aumentos, pelo fim da tarifa bi-horária e pela dupla-faturação inicial e os acertos nas mudanças de fornecedor) – e quem não mudar de fornecedor vê a fatura crescer de três em três meses. Mas os aumentos não serão apenas na eletricidade. Na verdade, e apesar da baixíssima taxa de inflação prevista, eles irão chegar de todos os lados.

2. Em 2015 o IMI vai aumentar na Guarda e na Covilhã (contrariando a tendência nacional de mais de metade dos 308 municípios portugueses – que desceram a taxa para o limite inferior do intervalo permitido por lei). E também a água vai continuar a ser a mais cara da região nos dois concelhos. E os transportes – os urbanos da Guarda aumentaram de forma escandalosa: o bilhete mais vendido, o pré-comprado em carteiras de 10 (antes de 20), passou de 52 para 75 cêntimos a unidade.

3. O preço do crude desceu quase 50 por cento em 2014. E desde 2011 quase 60 por cento. Se o preço dos combustíveis refletisse de forma direta e imediata o custo do petróleo, hoje, estaríamos a abastecer gasóleo a menos de setenta cêntimos. No entanto, e apesar da descida acentuada nos últimos meses, ela é muito menos vertiginosa que a queda do petróleo nos mercados internacionais. Mesmo sendo certo que houve um acréscimo de cerca de quatro cêntimos por litro em impostos (com a patética Fiscalidade Verde) como é óbvio entre o preço do crude e o custo final ao consumidor a margem de intermediação, lucro ou outros custos, cresceu sobremaneira.

Luis Baptista-Martins

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