1. O ano foi marcado pela detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates, mas outros acontecimentos no âmbito da Justiça marcaram 2014. Desde o caso de corrupção com os vistos Gold, com a detenção do diretor dos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras, Manuel Palos (natural do concelho de Almeida) e do presidente do Instituto dos Registos e Notariado, António Figueiredo, à constituição de arguido de Ricardo Salgado ou a sentença do processo “Face Oculta”. Entre outros processos mais ou menos mediáticos, a Justiça dominou o espaço informativo e pôs a nu um país onde a corrupção já não é só conversa de café. O tráfico de influências, que sempre foi apanágio dos poderosos, passou a ser denunciado e combatido pela Justiça. A reforma da Justiça matou a justiça de proximidade com o encerramento de pequenos tribunais no mundo rural, mas terá porventura melhores condições para desmontar a teia de interesses e negócios escuros à volta de políticos, partidos e interesses financeiros.
2. Nós por cá, n’O INTERIOR, acabamos o ano como o começámos, a ser intimados pela Justiça. Desta vez, fomos notificados no penúltimo dia do ano porque, imaginem, cometemos o sacrilégio do direito a informar: informámos (revelámos que a Serra da Esgalhada tinha passado a ser privada por um erro grosseiro em que a Câmara de Fornos cedeu terrenos a um empresário, para a construção de um hotel, e acabou por registar o terreno definido e todos os adjacentes, Estádio Municipal e Parque Municipal de Merendas incluídos). O atual presidente da Câmara herdou a situação e, perplexo, declarou a este jornal tratar-se de um «ato de incúria» do anterior executivo, entre outras coisas… e o anterior autarca, José Miranda, não gostou e recorreu ao Tribunal. A Serra continua a ser propriedade privada e o município todavia não foi ressarcido. Mas, entretanto, nós, O INTERIOR, temos de prestar declarações e estar à disposição da Justiça por causa de fazermos o nosso trabalho: informar – e neste caso denunciar uma situação singular de usurpação de património público.
3. A CIM Beiras e Serra da Estrela de que tanto se espera é, para já, a desilusão do ano de 2014. Depois de meses de debate patético à volta da escolha dos nomes para secretários – e, afinal, o segundo secretário continua por nomear – a CIM desiludiu com um Plano Estratégico que, além de agradar a poucos, terá pouca ambição e muita “obra” que já vinha de trás. Como plano que deveria carregar o desiderato da região é pouco – a CIMBSE está em suspenso. Esperemos que Paulo Fernandes lhe dê um safanão, a bem do futuro da região.
4. Álvaro Amaro resumiu na última Assembleia Municipal o seu primeiro ano à frente do concelho com uma frase lapidar: «A vossa má gestão faz de mim melhor do que sou»! Sem dúvida. Os últimos mandatos dos socialistas à frente da Câmara da Guarda foram traumáticos para os guardenses e prejudicaram o futuro da cidade. A Amaro, para já, bastou-lhe fazer bem a gestão de expetativas e promover algumas dinâmicas, além de gerir com zelo e sentido de responsabilidade. Os socialistas, órfãos de poder, ainda não perceberam que vão ter de ouvir até à exaustão esta narrativa, mas só quando souberem conviver com a identificação dos erros e da incompetência do executivo anterior poderão inverter a lógica argumentativa e responder à altura. Até lá, vão fazer uma enorme travessia.
Votos de um próspero 2015.
Luis Baptista-Martins
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