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A dolorosa

Editorial

1. O regresso da troika, para mais um conjunto de reuniões e auditorias às contas do Estado, foi o mote para o regresso do debate sobre o alargamento das condições de resgate e a possibilidade de o país ter de pedir mais dinheiro aos credores.

Pode não haver muitas razões para alabarmos a governação de Passos Coelho, que em muitas áreas tem falhado estrondosamente, mas não podemos deixar de lhe creditar que, com o enorme esforço dos portugueses, a sua política conseguiu afastar Portugal da Grécia e que, graças a isso, hoje o país paga taxas de juros muitíssimo inferiores às que pagava há um ano e Portugal recupera a imagem de país cumpridor e viável. A austeridade que matou a economia permite uma luz no fundo do túnel… E em relação à ideia, que a oposição em uníssono defende, de que Portugal precisa de mais tempo (e mais dinheiro), não é garantido que por essa via seja possível recuperar da situação de severidade e intransigência em que o país entrou. Aliás, ninguém, estranhamente, ao defender «mais tempo» apresentou as contas de quanto é que poderia custar ao país um putativo alargamento ou pedir mais dinheiro. De resto, o debate está centrado apenas na argumentação politico-ideológica, pois se fosse ao contrário, e o governo estivesse, como os gregos, a pedir mais tempo e dinheiro, como reivindica a oposição, seguramente que teríamos Seguro e Louçã aos gritos de que Passos Coelho falhara e não devia nem pedir mais tempo nem mais dinheiro, porque isso teria custos gravíssimos para a pátria. Como não o fez, dizem que está errado e o devia fazer…

Qualquer cidadão que tenha um crédito bancário sabe que ao renegociar a sua dívida, alargando o prazo, poderá ficar a pagar um bocadinho menos no imediato, mas no fim terá de pagar muito mais. A questão é saber se aliviar a dificuldade hoje fará com que o custo final compense. A “dolorosa” está garantida, paguemos mais cedo ou mais tarde, os credores irão tirar-nos o “couro e o cabelo”. Por isso, não podemos deixar de pedir que pelo menos a política fiscal não seja agravada. Não há quem aguente mais impostos.

2. Foi com surpresa e consternação que recebemos a notícia do falecimento de Augusto Monteiro Valente. O major-general do Exército, que integrou o Grupo dos Nove, de Melo Antunes, e assumiu o comando do Regimento de Infantaria 12, da Guarda, no dia 25 de Abril, era natural de Coimbra, mas com ligações familiares ao concelho de Almeida. Foi um humanista, estudioso da história e especialista em assuntos militares, afirmando-se como uma personalidade de relevo no processo de democratização do país após a Revolução.

Augusto Valente colaborou com o jornal O INTERIOR, mostrando sempre grande disponibilidade, escrevendo ou comentando assuntos relacionados nomeadamente com o 25 de Abril. Nesta edição, publicamos um dos textos que disponibilizou a este jornal (página 7): O Relatório das Operações das Forças do RI12. um documento confidencial enviado a 4 de Maio de 1974 para o MFA pelo então capitão Valente e que, na opinião do próprio, é um documento central para o conhecimento da história do 25 de Abril na região. É a nossa singela homenagem.

Luis Baptista-Martins

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