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«Foi uma experiência muito enriquecedora em termos individuais»

Cara a Cara – João Esgalhado

P – Foi muito complicado percorrer os quase seis mil quilómetros que ligam São Petersburgo da Covilhã de bicicleta?

R – Sem usar a palavra complicado, não foi fácil. Concluir com êxito este projeto exigiu muita determinação e bastante espírito de sacrifício.

P – Quais as principais dificuldades que encontrou?

R – A primeira dificuldade que encontrei foi a linguística na Rússia e também um pouco na Finlândia mas mais agravada na Rússia porque nós, ocidentais, desconhecemos o cirílico e mesmo as letras iguais às do alfabeto romano não têm o mesmo significado nem o mesmo som. Não consegui encontrar um mapa em russo e simultaneamente em inglês ou russo e francês ou português, apesar de ter procurado nas melhores livrarias de São Petersburgo. Já tínhamos tido alguma dificuldade de obtenção dos vistos para a entrada na Rússia, de tal forma que uma das grandes agências nacionais se recusou a fazer o programa sem que se anexasse um voo de vinda ao de ida porque temiam que ficássemos retidos no aeroporto. Ao nível da execução propriamente dita da iniciativa houve a dificuldade da própria dureza física e psicológica de um trajeto desta natureza. São muitos dias consecutivos e muitas horas em cima de uma bicicleta, o que a partir de um dado momento começa a provocar algum cansaço e alguma dor. É preciso ter capacidade de encaixe para suportar esses inconvenientes e ir cumprindo os objetivos que traçámos na planificação inicial. Outra dificuldade foi a questão do tempo. Este verão foi incaraterístico em toda a Europa em que choveu muito e nos países nórdicos em 60 adias apanhei mais de 30 a chover, o que provoca um desconforto, uma insegurança e dificuldade adicionais.

P – Que recordações guarda da experiência?

R – Guardo recordações muito boas e não tenho nenhuma má. Tenho boas recordações no sentido de uma experiência muito enriquecedora em termos individuais. Também tenho boas recordações no que respeita à beleza paisagística e à beleza de cada país visitado. Em cada país existem belezas naturais e caraterísticas culturais que transportam para o edificado e o urbanismo que lhes dão a sua graça própria e nesse aspeto também foi muito enriquecedor. Também apreciei muito a riqueza humana que encontrei porque ao longo de todo o percurso encontrei gente fantástica e de uma maneira geral sempre predisposta para ajudar e apoiar esta iniciativa, sobretudo quando eu necessitava e procurava apoio. Às vezes, mesmo sem procurar apoio, as pessoas vinham ter comigo e perguntavam se eu necessitava de alguma coisa.

P – Admite abraçar um novo desafio do género?

R – Claro que sim. Foi uma experiência que marca e que se constitui como detonadora para outras experiências no futuro. Obviamente com os ajustamentos que a experiência nos recomendará mas seguramente eu e o meu companheiro, e outros que eventualmente se poderão juntar, estamos dispostos a avançar para outras iniciativas do género.

P – Os objetivos iniciais de chamar a atenção e angariar fundos para a Cerci Oeiras e para a Associação pela Esclerose Lateral Amiotrófica foram alcançados?

R – Pelo menos, parcialmente penso que sim, já que recebemos das duas instituições envolvidas e co-parceiras neste projeto feed-backs muito positivos. A APELA disse-nos que esta iniciativa tinha sido despoletadora de um despertar das consciências dentro da instituição e que havia um conjunto de iniciativas que já estavam programadas após termos lançado este projeto. A APELA estava muito satisfeita e a Cerci Oeiras também nos deu indicações muito agradáveis. Em termos financeiros, ainda não fiz o balanço com as instituições para saber se foi ou não suficientemente satisfatório. Estamos num período de crise e as empresas e as pessoas estão com dificuldades acrescidas e é mais difícil haver apoios importantes mas nós ao longo do percurso encontrámos várias pessoas que nos iam perguntando como podiam fazer donativos. Por pouco que seja é sempre importante para estas instituições e seguramente algum dinheiro entrou. Nós próprios, promotores, acabámos por dar um apoio pessoal significativo, não vou divulgar o montante, a cada uma destas instituições.

João Esgalhado

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