O PSD vai provavelmente ganhar as eleições de domingo e Pedro Passos Coelho será o próximo primeiro-ministro.
A história encarregar-se-á de reservar um lugar para José Sócrates, a que tem direito, porque entre 2005 e 2008 foi um excelente primeiro-ministro, que com o dealbar da crise perdeu o norte e não mais conseguiu acertar no rumo do país.
A vitória de Passos Coelho não será mais do que a consequência do estado a que o país chegou. Um país resgatado pela Europa e pelo FMI, um país sem ânimo nem autoestima, um país a viver uma crise profunda e duradoura, um país que volta a ver os filhos partirem à procura de melhor vida porque o futuro é uma miragem, um país que já se pensava rico e europeu, mas afinal continua a ser pobre e onde a fome convive com os privilégios de uns poucos. Um país onde há cada vez mais gente a revolver os contentores de lixo à procura de restos. Um país onde há cada vez mais dependentes da ajuda dos vizinhos, da igreja ou das IPSS (das que realmente prestam serviço à comunidade, porque há muitas instituições particulares que de solidariedade só têm o nome, os direitos e os cheques de milhões que a segurança social lhes atribui). Um país com um milhão de desempregados, porque, como os números dizem, há quase trezentos mil que já desistiram, que já nem procuram trabalho, que já não têm sonhos, sequer o simples sonho de viver. Um país de direitos adquiridos, onde alguns ganham muito, mas a maioria ganha menos de 700 euros por mês. Um país a três ou a quatro velocidades – a dos que vivem com milhares de euros ao fim do mês, a dos que ainda têm razões para sorrir, a dos que vivem remediados e resignados, mas ainda vivem, e as dos outros, dos que ainda têm trabalho mas vivem cada vez mais no fio-da-navalha, a dos que já não têm trabalho mas ainda subsistem com um mínimo de dignidade e a daqueles que vivem da ajuda – e são cada vez mais (como exemplo, basta estar atento ao aumento de pessoas que todos os dias, às duas da tarde, na cidade da Guarda, envergonhadamente, esperam que a porta da “cozinha económica” se abra para apressadamente entrarem ansiosos por uma sopa e umas batatas com o que seja. Ou ver as pessoas, das mais diversas origens, que todos os dias, timidamente, chegam e partem da “Loja Social” de S. Miguel, com roupas, calçado ou brinquedos…). Um país que desbaratou financiamentos, que construiu estádios para o Euro, que sonha com o TGV e com aeroportos novos (e até os faz no Alentejo profundo, para exportar peixe a partir de Beja…). Um país de gente que trabalha e quer ser feliz, porque tem direito a ser feliz, mas que não se resiste a viver com o que tem e com o que não tem. Um país de netos de analfabetos, doutorados, que emigram sem possibilidade de ajudarem a progredir a pátria que lhes deu muito mais do que aquilo que alguma vez os seus avós sonharam. Um país que tem tanto para dar certo e dá errado. Que tem gente tão capaz e falha. Um país que é o país de Siza e Souto Moura; e é também de Herberto Hélder e Lobo Antunes; que é de Sobrinho Simões e Manuel Antunes; ou também de Mourinho e de Cristiano… um país que é o nosso, mesmo que por vezes queiramos fugir dele. Um país em que todos temos a responsabilidade de fazer mais e melhor. E mais e melhor neste tempo que o país tanto precisa de todos. Por isso, domingo, vamos votar para mudar alguma coisa.
Luis Baptista-Martins