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«Portugal continua a sofrer de um défice estrutural de qualificações»

Américo Paulino, Diretor do Inst. Emprego e Form. Prof. Guarda ao EXPRESSÃO:

Valerá a pena fazer um curso superior? Há emprego para diplomados?

Portugal continua a sofrer de um handicap que tem a ver com um défice estrutural de qualificações. A população ativa tanto empregada como desempregada apresenta baixos níveis de escolaridade e de qualificações, ao que andam associados empregos mal remunerados e baixos níveis de competitividade.

Num contexto de crise como a que atravessamos, o desemprego das pessoas com habilitações de nível superior acompanha a tendência geral do desemprego, que é preocupante, tendo atingido níveis históricos.

Quais as áreas de diplomados com cursos superiores mais atingidas?

As áreas de estudo predominantes no desemprego são coincidentes com as áreas com maior número de diplomados saídos dos estabelecimentos de ensino, com destaque para as Humanidades, que têm uma elevada representatividade. Para além das profissões ligadas ao ensino, destacam-se, no desemprego de diplomados, as profissões das áreas administrativas e das ciências sociais e do comportamento.

É, no entanto, importante, referir que níveis mais elevados de escolaridade e qualificação são sinónimo de mais elevados níveis de empregabilidade e, consequentemente, de uma mais fácil transição para o mercado de trabalho. É, pois, correto, afirmar que, quanto mais elevados são os níveis de escolaridade e qualificação, menor é o tempo médio de inscrição para emprego.

O mercado de trabalho é global?

Quando falamos em mercado de trabalho, e particularmente, no que se refere a jovens com habilitações de nível superior, já não nos limitamos apenas ao mercado de trabalho local, regional e até nacional, mas também, ao mercado de trabalho global. Daí que, quando se coloca a questão de saber se há emprego para jovens diplomados, parece-me que, nos dias de hoje, seria redutor legitimar opções de formação com as oportunidades do mercado de trabalho local ou regional. No mundo global com as características já referidas, a mobilidade é funcional mas é também geográfica.

O que se aconselharia, então, a um candidato a uma profissão?

Que tome decisões fundamentadas. Tomar decisões fundamentadas é tomar decisões realistas, é conciliar os interesses, os valores, as capacidades e aptidões, com um conhecimento do mercado de trabalho e das suas tendências. Que competências são fundamentais no mercado de trabalho de hoje? Como nos devemos preparar para o futuro?

Gostaria, ainda, de não fazer distinção entre ensino politécnico e ensino universitário, sendo que, me parece que o mais importante terá a ver com o projeto de desenvolvimento pessoal, com as competências em que se quer investir e a conciliação com a escola que garanta um ensino com qualidade.

Engenharias ou saúde parece ser o dilema de muitos alunos que estudam Ciências e Tecnologias…

Penso que será uma atitude reducionista limitar as escolhas a estas duas áreas. Diria antes que me parece que as áreas do presente e do futuro próximo se centrarão nas tecnologias de informação e comunicação, na informática, nas telecomunicações, na telemática, na robótica, na ecologia, na biogenética. Destacaria alguns setores estruturantes em desenvolvimento, significativamente atrativos: o Turismo, a Mobilidade – Transportes / Logística, a Energia, o Ambiente, a Saúde, os Cuidados Pessoais, as Indústrias Recreativas.

Inquérito: Candidaturas

Em inquérito realizado junto de 44 alunos do 12º ano, a grande maioria (cerca de 70%) revela como principal fator de escolha de um curso a realização pessoal e vocacional, vindo a seguir o estatuto sócio-económico a atingir, o local da escola e finalmente a facilidade do curso. Só no final vêm as saídas profissionais e a média de entrada no curso.

No entanto, a cerca de um mês e meio da candidatura, 68% têm ainda dúvidas sobre a escolha a fazer e isso deve-se sobretudo ao desconhecimento da empregabilidade do curso no seu final e às médias que vão ser necessárias. São fatores menos importantes para as dúvidas a dificuldade do curso e o desconhecimento do que se exige em cada profissão. Cerca de 30% dos alunos que pretendem candidatar-se já ponderou mesmo em não prosseguir estudos dada a grande indefinição atual quanto à empregabilidade dos cursos. Isso não se deve no entanto a falta de informação já que os alunos se sentem informados, dizem eles (73%). Os poucos alunos (34%) que revelam já ter uma decisão quanto ao curso que vão escolher indicam que a decisão foi tomada já este ano (42% desses alunos), tendo 29% feito essa opção no início do Secundário e outros 29% antes do Secundário.

Em 44 alunos, os Cursos mais escolhidos para a 1ª preferência são a Psicologia (6 alunos), a Enfermagem e o Direito (5 alunos), as Ciências da Comunicação / Relações Públicas (4 alunos) e o Jornalismo (2 alunos). Diga-se também de passagem que a taxa de indecisão é semelhante na turma de Ciências e na de Humanidades.

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