«Há males que vêm para bem», diz o povo. E é bem verdade. Em todos os sectores da sociedade estamos sempre a tropeçar neste provérbio.
A revolução do Jasmim que assolou o norte de África, para além do grito de liberdade dos povos tunisinos e egípcios, e talvez do líbio, veio alterar completamente o mapa de viagens do turista europeu. Mais, a crise no Egipto, um dos mais importantes destinatários de turistas e viajantes indo-europeus, leva a que as terras do Nilo e das pirâmides tenham quedas abruptas de visitantes. Com as dificuldades criadas pelo fervor de liberdade dos norte-africanos ficam a ganhar outros destinos culturais e de sol.
Espanha e Itália são quem mais ganha com a crise do Egipto estando previsto um crescimento extraordinário de visitantes que inicialmente teriam a intenção de conhecer o mundo dos faraós. Mas também Portugal aparece como destino de eleição para os promotores de turismo de praia e, assim, o Algarve e a Madeira deverão conseguir taxas de ocupação excecionais. Aliás, no Algarve já há inclusive grupos hoteleiros a viverem a surpreendente situação de overbooking, por excesso de reservas.
Esta estranha realidade, num país em crise e à beira da bancarrota, com os portugueses, famílias e empresas, a sentirem cada vez mais dificuldades, permite-nos algum optimismo. Não um optimismo objectivo, pois efetivamente o crescimento exponencial de turistas em Lisboa, Algarve e Madeira não terá uma relação direta com a recuperação económica do país, mas poderá ser determinante para alguns sinais positivos que tanto ambicionamos cheguem depressa. Até é provável que não se vislumbre no imediato que a alteração de fluxos de turistas é essencial para criar uma esperança nova, mas deve permitir perceber que o turismo vai ser um contribuidor cada vez mais decisivo para ingressos de dinheiro numa economia tão fragilizada e necessitada.
Mas melhor que esta sensação que o país vai ganhar muito com as revoluções do Jasmim, seria podermos dizer que a nossa região também teria motivos para sorrir. Não é assim. Infelizmente a crise, por cá, vai-se sentindo cada vez com mais intensidade. Pode haver mais estrangeiros na costa, mas na região o que há é cada vez mais portugueses a partirem para o estrangeiro.
Luis Baptista-Martins