1. Talvez seja excessivo dizer que as Novas Oportunidades «são a certificação da ignorância» como, segundo dizem os socialistas, terá alvitrado Passos Coelho ao exigir uma auditoria pelos muitos milhares de milhões de euros que o programa custou. Mas ninguém tem dúvidas de que as Novas Oportunidades diplomaram, artificialmente e sem aquisição de novos conhecimentos, centenas de milhares de pessoas com base na sua experiência e conhecimento empírico. Essa certificação de “competências” não tem nada de mal, pelo contrário, mas per si, encerra uma monumental mentira, a de que esses milhares de pessoas têm um grau de conhecimento mais elevado, quando na prática continuam a saber o mesmo, porventura com uma melhor capacidade de percepção e interpretação – o que já é muito bom. Na prática, elevou-se estatisticamente o grau de conhecimento das pessoas, mas sem lhes dar mais conhecimentos. Ou, como comentou Medina Carreira, «trata-se de um embuste», quando todos sabemos que «a aprendizagem obtida, em regra, pouco passará do “zero”» até porque «os frequentadores são atraídos pela miragem de um diploma fácil e rápido, mesmo que sem qualquer conteúdo». Por culpa deste facilitismo promovido pela forma de governar de José Sócrates, uma boa ideia (acidentalmente de Durão Barroso), acaba por ser um desperdício de milhares de milhões de euros sem qualquer resultado para além da auto-estima de alguns.
Mas o mais caricato foi a forma ardilosa como, mais uma vez, o PS reagiu, com José Sócrates, rezingão, a dizer que isto é um ataque pessoal e a usar na perfeição o argumento de que meio milhão de pessoas estão a ser diminuídas e ofendidas por Passos Coelho – assim se ganham votos e assim se ganham eleições, pois os diplomados das Novas Oportunidades, esses «certificados da ignorância», também votam e perante esta polémica artificial votarão no PS. E desta forma, mais uma vez, Sócrates fala e discursa sobre o que os outros dizem, sobre o que os outros propõem, sobre os erros dos outros, sobre os deslizes ou a falta de elegância dos outros… e nunca sobre o que ele vai fazer. Aliás, o caricato é que ainda ninguém ouviu uma ideia, um projecto, uma sugestão do PS para governar Portugal nos próximos quatro anos; ainda ninguém conhece o “programa”, nem sabemos se ele existe para além do que o Governo contratou com a troika, tal como os partidos de direita, pois, habilidosamente, José Sócrates tem-se furtado a explicar o quer que seja sobre o que vai fazer de diferente. E a maior das inépcias de Passos Coelho, e do PSD, é precisamente não conseguir sair dessa teia em que está sequestrado pelo PS, impedindo-o de dizer alguma coisa de politicamente relevante. Ou, como escreveu Pulido Valente, o problema é que os “quadros” do PSD são tão maus, tão incompetentes e tão ignorantes que não conseguem dizer ao país nada que se aproveite, sem pelo meio dizerem uns disparates que o profissional do engodo e da ilusão, José Sócrates, não aproveite da melhor forma.
2. O Prémio Camões é o mais importante prémio literário de língua portuguesa e foi atribuído, na semana passada, a Manuel António Pina. Instituído pelos governos de Portugal e do Brasil em 1988, entretanto passou a envolver todos os países de língua oficial portuguesa e é atribuído anualmente, alternadamente no território de cada um dos dois estados.
Entre os vencedores do Prémio Camões encontramos alguns dos maiores nomes da literatura portuguesa, como Jorge Amado ou José Saramago, Sophia de Mello Breyner ou António Lobo Antunes. E também Vergílio Ferreira. Por tudo isto, e sem querer aludir a tantas outras razões, a atribuição, por unanimidade, ao autor de “Ainda Não É o Fim Nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde” do Prémio Camões é motivo de grande regozijo para as letras portuguesas, mas também da região. Manuel António Pina, jornalista e cronista, autor de livros para crianças e ficcionista, poeta nascido no Sabugal em 1943, dá nome ao mais importante prémio literário outorgado na Guarda desde 2010.
3. O regresso da iniciativa “Passos à volta da memória” é uma excelente notícia. Na verdade, enquanto vemos como o centro da cidade vai definhando, o centro histórico, apesar da requalificação do pavimento, fica moribundo e a Praça Velha foi completamente abandonada, a teatralização histórica aparece como a única iniciativa de dinamização turística e social para aquela zona da cidade. A Guarda precisa de fórmulas, de ideias e projetos que tragam pessoas à cidade, mas precisa não apenas de atrair turistas, como também de envolver os guardenses na revitalização da urbe. É angustiante visitar o centro da cidade numa tarde de sábado ou ao domingo – não se vê ninguém, não se passa nada… É com iniciativas como esta, que urgentemente devem ser replicadas e multiplicadas por muitas outras, que se pode recuperar e estimular a revitalização da cidade, mas é necessário muito mais. A Guarda está a viver um estranho réprobo: o do abandono do seu centro, do seu coração de cidade.
Luis Baptista-Martins
