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Apertar o cinto…

Editorial

1. A um mês de eleições, e nos prazos previstos, a troika fez as contas e apresentou o programa de Governo para Portugal para os próximos anos. José Sócrates apareceu aos portugueses a falar de medidas benignas e de um futuro radioso, de acordo com o PEC IV que ele quis aprovar – um optimista mesmo quando estamos à beira da ruptura, da bancarrota, de que ele é o grande responsável. Os 78 mil milhões que o FMI, a EU e o BCE deverão emprestar a Portugal podem permitir evitar o pior, mas seguramente que irão doer mais do que as palavras iniciais do primeiro-ministro transparecem. Aliás, sintomático da forma de fazer política de Sócrates: em vez de dizer onde é que o plano irá ao bolso dos portugueses, optou por dizer que este «é um bom acordo», descrevendo mesmo o que não é o plano – que não haverá corte nos subsídios de férias, nem no subsídio de Natal, nem nas pensões abaixo dos 1.500 euros, nem haverá despedimentos na função pública, que as metas do défice vão ser um pouco mais folgadas do que se previa e que a assistência financeira irá implicar muitos sacrifícios, mas as medidas mais draconianas irão assentar sobretudo no Estado e menos nas pessoas – do plano, do que realmente irá ser feito, Sócrates não falou. Escondeu. Escondeu que privatizações irão ser feitas, que impostos irão aumentar, que alterações à legislação laboral serão implementadas, que juros serão pagos pelo empréstimo… mas que ninguém tenha ilusões, não vai haver facilidades. O acordo só é benigno para Sócrates, que vai recuperando nas sondagens e tem cada vez mais razões para sorrir.

Luis Baptista-Martins

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