Trazia promessas de sucesso e inovação mas, sete anos depois, a Ecoldiesel – empresa que produzia biocombustíveis em Belmonte – chega ao fim. O Tribunal da Covilhã aceitou o pedido de insolvência, apresentado pelo acionista maioritário, a Santa Casa da Misericórdia local.
Para o provedor, João Gaspar, «o assunto está encerrado» e agora resta apenas esperar pela venda do património para pagar aos credores. Na sua opinião, houve vários atrasos e percalços que contribuíram para que o negócio falhasse. «Primeiro, o licenciamento demorou muito a obter junto do Ministério da Economia e depois da empresa já estar constituída, surgiu entretanto legislação que nos obrigava a ter mais licenças ao nível geológico. Além disso, a transferência das instalações para o parque industrial também demorou», recorda o responsável, que chegou a ser administrador da empresa. O projeto surgiu há quase dez anos e, na altura, começou por ser desenvolvido pela Empresa Municipal de Belmonte, tendo sido mais tarde aproveitado pela Santa Casa da Misericórdia. A ideia era aproveitar o óleo alimentar, utilizado na área da restauração, para produzir biocombustível.
Aos olhos dos acionistas, reciclar óleos alimentares era uma ideia que, na altura, parecia rentável. Contudo, as peripécias que viriam a contribuir para o fim da Ecoldiesel começaram cedo, já que o Ministério da Economia encontrou irregularidades no licenciamento e registo da empresa, que teve que pagar uma multa de 500 mil euros. Além disso, surgiram ainda suspeitas de descargas ilegais de efluentes e contaminação de terras, que João Gaspar negou na altura. Ao mesmo tempo, a Santa Casa começava também a viver tempos conturbados no que diz respeito às suas próprias finanças, uma situação que para alguns “irmãos” foi impulsionada pelos problemas de várias empresas que a instituição detinha, entre elas a Ecoldiesel. Já no ano passado, uma auditoria encomendada pela autarquia às contas da instituição confirmava a suspeita: os investimentos sem retorno num lar em Caria, num auditório e nalgumas empresas (como a Ecoldiesel) pouco contribuíam para o equilíbrio das contas da Misericórdia.
O diagnóstico da Moore Stephens, encarregue da auditoria, era claro: a Santa Casa estava em falência técnica. A falta de dinheiro engrossava as dívidas da Ecoldiesel e esta era, aliás, acusada de nem sequer conseguir pagar os óleos usados aos fornecedores. Para aliviar a Santa Casa surgiu depois a ideia de conferir “independência” à empresa, constituindo-se uma sociedade anónima. «Mas isso também não foi possível», lamenta hoje o provedor da instituição. «Tentámos vender, deram inclusive autorização à gerência para se constituir uma sociedade anónima, mas não apareceram sócios», acrescenta João Gaspar. As soluções eram cada vez mais uma miragem e as instalações chegaram mesmo a ser seladas pelas finanças por dívidas ao fisco. Na opinião do responsável, a empresa só se poderia “salvar” através da «injeção de capital ou de um fundo de maneio». No entanto, já este ano, o desfecho pouco favorável parecia cada vez mais certo. «Não tivemos outra opção se não fazer o pedido de insolvência», lamenta o ex-administrador. Um pedido que foi aprovado, levando o Tribunal da Covilhã a decretar a insolvência no mês passado.
Catarina Pinto