Um dos objectivos da propaganda é tornar obsessivo o desejo por um objecto. De facto a arte é que esse objecto não nos faça falta e o compremos. Vender frigoríficos no Pólo Norte, casacos de penas no Equador, sapatos com pregos a um acamado, açaimes para gatos, chapéus de duas cabeças para namorados. A arte é vender transversalmente, igualar o rico, o pobre, o ateu e o religioso. A força de criar uma necessidade é aquela que levou a lançar uma campanha mundial contra a gripe A, contra a gripe suína, contra a falta de açúcar, que nos levará a comprar um detector de sismos ao domicílio, uma braçadeira que muda de cor se tivermos um cancro. O território do medo é ideal para a presença da ilusão e para a venda de objectos placebo, de certezas sobre falsidades. O discurso político é também vítima deste conjunto de arautos da desgraça e dos seus propagandísticos jornalistas. De facto, a ignorância associada ao pânico dão os pilares do consumo de ilusões. Não digo que não nos devêssemos precaver de uma gripe mortal, mas não deixa de ser caricato os Estados terem perdido dezenas de milhões de euros numa crise que o não foi. Suceder-se-ão os mitos e as fantasias. Criámos uma industria de exigências que levam a toneladas de desperdícios e rejeitamos por etiquetagem produtos que estão bons. A necessidade de dar prazos a tudo leva a ter data de consumo em papel higiénico, em detergente do chão. A validade dos produtos é mais um mecanismo de consumo. Aquilo que pretendo é fazer sentir a necessidade de se estar atento e ser crítico da diarreia legislativa europeia e dos padrões de comportamento que nos querem forçar. Receitas electrónicas, recibos verdes electrónicos, fazem parte deste padrão que nos leva a comprar computadores e impressoras de que manifestamente não há qualquer objectividade que necessitemos. O exagero da fiscalidade para substituir o laxismo da punição.
Por: Diogo Cabrita