P – Qual o objectivo do livro “Dizeres e Saberes… Expressões Populares”?
R – A ideia do livro nasceu quando uma vez disse a um neto que era “esperto como um alho” e ele perguntou-me o significado daquela expressão. Partindo daí, o objectivo do livro é salvaguardar um património linguístico de frases feitas, dizeres e expressões populares que utilizamos muito, e que a gente jovem não conhece ou conhece mal e as pessoas mais velhas não sabem a origem das expressões. Eu fui buscar essas expressões, apliquei-lhes o sentido e fui às causas que lhe deram origem.
P – Qual a principal diferença relativamente a outros livros do género?
R – Há livros deste género, mas falta-lhes a origem das expressões, dos dizeres ou dos provérbios.
P – Qual foi o critério que definiu para escolher as expressões?
R – Fundamentalmente aquelas que fui ouvindo e as que já conhecia, outras foram-me sugeridas por colegas. Posteriormente, fiz a pesquisa para saber a origem de todas as expressões, porque todas as pessoas as sabem usar, mas desconhecem a sua origem. Hoje, fala-se muito em património, que se deve salvaguardar, e este património linguístico – porque se trata de autênticas jóias – anda esquecido e a gente nova conhece pouco.
P – Lembra-se de algumas expressões que não tenham sido usadas?
R – Sim, muitas. Aliás, eu tenho expressões que dariam quase para fazer outro livro, mas quis fazer este como “tubo de ensaio” e, posteriormente, se a edição esgotar, farei uma edição ampliada com muitas mais expressões. Por exemplo, “ir a Cascais para nunca mais”, “meter o Rossio na Rua da Betesga”, “não ter os alqueires bem medidos”, são algumas das expressões que não constam neste livro.
P – Que expressão mais gostou ou com a qual mais se identifica?
R – Gostei especialmente da expressão “o toque de Midas”. Midas é uma figura da mitologia grega e a expressão utiliza-se para classificar as pessoas que têm o sortilégio de, em tudo o que tocam, fazerem sucesso. Esta analogia surge porque Midas terá pedido a um deus que lhe transformar-se tudo o que ele tocasse em ouro, tendo-lhe o pedido sido concedido.
P – Já tem outros projectos em mente?
R – Sim. Quero alargar este livro e ir às curiosidades da nossa língua, que tem como substrato o latim, o grego e influências árabes. Estes povos deram-nos uma base cultural e há muitas palavras que têm estas origens e que vão evoluindo, adquirindo outro sentido muitas vezes. É este tipo de aspectos que espero explorar futuramente noutro livro.