A alienação do Hotel de Turismo, por 3,5 milhões de euros, foi um dos assuntos que marcou a última Assembleia Municipal da Guarda, realizada na terça-feira no Marmeleiro. Na oposição, o PSD e o BE foram os que mais contestaram o negócio com o Instituto de Turismo de Portugal. Os sociais-democratas consideraram o processo «muito pouco transparente», por não ter existido concurso público, enquanto que os bloquistas chegaram a propor a realização de um referendo. A venda foi aprovada com os votos do PS e também do único deputado da CDU, Aires Dinis.
O social-democrata Jorge Libânio afirmou que a venda merece «uma séria reflexão», defendendo que «deveria ter havido um concurso público». «Somos da opinião que este processo é susceptível de suspeições, permitindo a interpretação de eventuais interesses ocultos», afirmou. Para o deputado, «esta situação discriminou o grupo de investidores da Guarda que demonstrou interesse na compra do imóvel». Constatando que o Guarda Mall não obteve o visto do Tribunal de Contas exactamente por ter havido uma negociação directa, o deputado lançou questões: «Será que o TC irá uma mais uma vez puxar as orelhas ao executivo? Será que a possível não aprovação da venda do imóvel não vai pôr em risco o sucesso da transacção?», atirou. Jorge Libânio quis ainda saber se o grupo de empresários ofereceu realmente quatro milhões de euros, como noticiou O INTERIOR, e como decorreram as negociações.
Do lado do BE quem interveio foi Jorge Noutel, que chamou ao negócio «uma trapalhada». No entender do bloquista, os guardenses deveriam ser chamados a pronunciar-se sobre o futuro do edifício. «Ninguém é dono de nada e, por isso, deveria ouvir-se a população», argumentou. A moção – apresentada ainda antes do período da ordem do dia – acabou por ser chumbada. «Quanto custaria esse referendo ao município?», reagiu o socialista Nuno Almeida. Já Cláudia Teixeira, do CDS-PP, sustentou que «importante seria ouvir o grupo de empresários». Todo o processo «é de lamentar», analisou. Aires Dinis também interveio, dizendo que «o referendo só deve existir depois de muita discussão porque para fazer a pergunta as pessoas têm de estar esclarecidas». O deputado comunista considerou ainda que «há espaço no mercado» para que os privados interessados na unidade concretizem o seu projecto noutro espaço.
Na resposta, o presidente da Câmara garantiu que não houve uma oferta formal por parte dos empresários: «A proposta [de quatro milhões] foi verbal e feita à mesa de um café. Não há nenhuma proposta na Câmara». Joaquim Valente esclareceu também que os informou que «já tinha o hotel comprometido» e que lhes comunicou que a proposta do Turismo de Portugal era «a melhor solução». «Mantenho a mesma convicção desse dia», salientou, referindo que a transformação do imóvel em hotel-escola será «marcante para a cidade e para a região». O autarca informou ainda que o Turismo de Portugal irá efectuar metade do pagamento ainda este ano, sendo que o restante deverá ser liquidado até ao final de 2011.
Outro assunto em destaque nesta sessão foi uma recomendação apresentada por Baltazar Lopes. Constatando que os tempos são de crise e que «a Câmara terá por isso de fazer cortes», o presidente da Junta de Aldeia Viçosa propôs que se comece com uma redução na transferência de verbas para o Teatro Municipal da Guarda (TMG) de 20 por cento ainda este ano e de 30 por cento em 2011. O PSD deu uma “achega” ao texto, acrescentando que aquela percentagem a retirar à área da cultura deveria ser destinada às Juntas. A recomendação foi aprovada com os votos do PSD e de presidentes de Junta. Foram ainda aprovadas, por maioria, duas moções de protesto contra a introdução de portagens na A25 e A23, do PS e da CDU.
Abaixo-assinado pelas estradas do Marmeleiro
A presidente da Junta do Marmeleiro entregou ao presidente da Câmara um abaixo-assinado com 620 assinaturas, onde é reivindicada a requalificação da rede viária da freguesia. Em causa estão a EM530 e EM544, que servem a sede de freguesia e as anexas de Penedo da Sé e Quinta de Gonçalo Martins. «Encontram-se em elevado estado de degradação», salientou Tânia Cameira. O presidente da Câmara disse compreender a reivindicação da população e explicou que «não há de momento meios financeiros» para resolver o problema. Joaquim Valente referiu que a obra terá de ser candidata a fundos comunitários.