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Câmara aumenta subsídio da Culturguarda

NDS pede adiantamento de parte dos subsídios em atraso, cerca de 135 mil euros, para evitar fim do clube da Guarda-Gare

O financiamento ou a falta dele marcou a última reunião de Câmara na Guarda, realizada na segunda-feira. Tudo porque o executivo aprovou, por maioria, o orçamento da Culturguarda, enquanto os dirigentes do NDS – Núcleo Desportivo e Social da Guarda-Gare foram pedir parte da verba de subsídios em atraso para evitar o colapso do clube.

Para 2010, o orçamento da Culturguarda sobe para 1,3 milhões de euros, aumentando ainda ligeiramente o subsídio à exploração para 1,038 milhões de euros. Os dois eleitos do PSD, em minoria, votaram contra, registando que a empresa municipal que gere o TMG «sobrevive quase exclusivamente» do financiamento da Câmara. Contudo, o vice-presidente do município, Virgílio Bento, avisou que «a autarquia não pode assumir mais encargos financeiros além dos que tem suportado» no complexo cultural da cidade. O também vereador com o pelouro da Cultura sublinhou que a situação da Culturguarda «estabilizou» no ano transacto, que terminou com um saldo positivo de 9.950 euros. «O que acontece pela primeira vez», realçou. Já para este ano prevê-se uma diminuição das receitas próprias porque «há menos encomendas e alugueres de espaço», justificou, acrescentando que «o importante é que este orçamento seja cumprido rigorosamente para chegarmos ao fim do ano com um saldo positivo». Virgílio Bento voltou a argumentar com a «dimensão regional» do TMG – que vai comemorar cinco anos em Abril: «Se há uma área onde se pode falar da centralidade da Guarda é precisamente na cultura», disse.

Uma leitura diferente subscreveram os vereadores do PSD. «Aumentam em 6,4 por cento os custos com pessoal, crescem 11,2 por cento os custos gerais da Culturguarda e em 8,1 por cento os custos associados à produção. Em contrapartida, as receitas descem 12,9 por cento», apontou Rui Quinaz, para quem «não é compreensível que haja uma estrutura cada vez mais pesada que não tem em conta as finanças do município». O social-democrata lamentou ser este mais «um exemplo de que continua a não haver contenção de despesa com este executivo, o que vemos é o contrário». E considerou que, passados estes anos, já se se «esperava uma fidelização e alargamento dos públicos-alvo do TMG», notando que «há menos gente» a assistir aos espectáculos. Por sua vez, Ana Fonseca reiterou não estar em causa «a qualidade da programação do TMG», mas acabou por sugerir que haja propostas mais populares. «Não devemos ter complexos, além de que estes espectáculos gerem habitualmente boas receitas», disse.

NDS à beira da ruptura

Literalmente com a “corda na garganta” foi assim que se apresentaram responsáveis e alguns funcionários do NDS na sala de sessões. Ao executivo deixaram um pedido urgente: «Necessitamos que a autarquia liquide em parte as verbas atribuídas sob pena de serem inviabilizadas as actividades do clube», declarou Luís Aragão, actual presidente da colectividade da Guarda-Gare. Sublinhando que a situação é «complicada e insustentável», o dirigente lembrou que há subsídios em atraso desde 2007, num total de 135 mil euros. «É dinheiro que nos faz muita falta, mas neste momento se recebêssemos 30 mil já ficaríamos muito contentes», declarou. Luís Aragão revelou ainda que o NDS poderia ter acabado em Janeiro não fosse «uma alternativa de última hora». Conduto, com uma despesa fixa mensal de mil euros devido ao transporte dos atletas, facturas da água, luz e a manutenção do campo do Carapito, a colectividade já não consegue fazer face aos seus compromissos.

«Estamos a cortar em todas as despesas, mas temos acções em tribunal por causa do combustível e estamos a dever gás e luz», referiu, dizendo ter sido também pedido aos pais dos jogadores que paguem uma mensalidade de 20 euros. «Já não aguentamos mais. E é extremamente difícil ir até ao fim, pois se abandonarmos seremos mais penalizados. Por outro lado, se ganharmos será ainda pior, infelizmente», afirmou. Na resposta, Vítor Santos, vereador com o pelouro do Desporto, admitiu que é «completamente impossível» pagar 30 mil euros, mas haverá «a possibilidade de desbloquear 10 mil, só que não temos dinheiro para o fazer neste momento». E acrescentou ser assim com o NDS e com os restantes clubes do município. O autarca recordou depois que, no clube da Guarda-Gare, «houve trabalho desportivo e de formação, mas não tanto de gestão». No entanto, Vítor Santos garantiu que «nenhum fechará as portas por falta de apoio da Câmara da Guarda».

Ora, para Luís Aragão, dez mil euros não chegam. «Os nossos compromissos são muito superiores, além de que não podemos ficar mais meio ano à espera do subsídio». O caso levou Rui Quinaz a comentar que «não adianta haver um regulamento de subsídios se não há depois dinheiro para os pagar, é lamentável».

Do que disse o galo às ruas esburacadas

Rui Quinaz quis saber, na segunda-feira, se o facto de várias ruas da freguesia de São Miguel e do bairro Nossa Senhora dos Remédios estarem esburacadas poucos meses depois de terem sido alcatroadas teve a ver com «a febre eleitoralista» das últimas autárquicas.

Depois de O INTERIOR ter noticiado que a autarquia vai ser obrigada a repavimentar as ruas em causa (ver última edição), o vereador social-democrata exigiu que sejam apuradas responsabilidades e imputados os prejuízos «a quem de direito». Virgílio Bento refutou a ideia de eleitoralismo nestas empreitadas, que estavam «integradas no programa de regeneração urbana» aprovado para vários bairros da cidade. E acrescentou que a empresa já foi notificada para repor «o que fez mal», o que será possível com melhor tempo. «A obra não está recebida, nem será paga enquanto não estiver em condições», assegurou o vice-presidente da autarquia, que presidiu à reunião por Joaquim Valente ter ido a Lisboa para uma reunião no ministério da Economia.

Por sua vez, Ana Fonseca criticou parte do texto do “Julgamento e Morte do Galo do Entrudo”, realizado na Guarda na noite de Carnaval. A vereadora social-democrata considerou que houve alusões pessoais – a Crespo de Carvalho e João Prata – «desnecessárias e até insultuosas», lamentando que o autor do escrito – Norberto Gonçalves – tivesse sido «faccioso e tendencioso». No entanto, o vice-presidente lembrou que se tratou de «um texto de Carnaval» e que até foi «muito levezinho» comparado com alguns dos anteriores. «É um texto satírico e não me pareceu que houvesse alusão ou crítica que se possa considerar insultuosa», declarou. Nesta reunião, o executivo deliberou ainda atribuir o nome do médico Afonso Paiva, falecido recentemente, a uma rua da Guarda.

Luis Martins

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