Já é tradição nesta época do ano surgirem os nomes dos galardoados pelo Instituto Karolinska, com o Prémio Nobel. O primeiro destes prémio a ser atribuído, em 2009, foi o Nobel da Medicina na passada segunda feira.
A australiana Elizabeth H. Blackburn, a americana Carol Creider e o inglês Jack W. Szoztak ganharam o prémio pela descoberta da enzima telomerase e dos telómeros como protectores das extremidades dos cromossomas
Os três especialistas em biologia celular resolveram uma questão de longa data. Desde os anos 30 que se percebeu que as extremidades dos cromossomas desempenhavam um função especial. Estas pontas estavam protegidas por estruturas designadas por telómeros. Com a descoberta do ADN, surge uma questão fundamental que lançam os telómeros para a ribalta, tal como afirma Miguel Godinho Ferreira, investigador principal e responsável pelo Laboratório dos telómeros e Estabilidade do Genoma do Instituto Gulbenkian de Ciência: “se as enzimas que sintetizam o ADN necessitam de uma cadeia molde pré-existente, o que acontece quando chegamos ao fim do molde nos telómeros?”
Conclui-se que o ADN não era totalmente sintetizado a cada duplicação o que implicava que as divisões celulares entrariam em declínio se não se repusesse as extremidades dos cromossomas.
A solução para este problema veio através de um modelo teórico que afirmava que existiriam enzimas nas células especializadas no restabelecimento do tamanho dos cromossomas. Essas enzimas foram designadas de telomerase.
O trabalho destes cientistas consistiu na identificação da tolemerase como a enzima (quase) universal que sintetiza as extremidades dos cromossomas. As leveduras, os cogumelos, plantas, insectos, aves e mamiferos possuem cromossomas que terminam em telómeros constituídos por curtas sequencias da ADN quase idênticas sintetizadas pela enzima telomerase.
A importância desta descoberta prende-se com as possíveis aplicações da telomerase. Estas permitem distinguir células tumorais das células normais que lhe deram origem, o que permite utilizar esta enzima como factor de diagnóstico no despiste precoce do cancro.
Por outro lado, uma das aplicações na qual já se trabalha é a inibição da telomerase na actividade cancerígena. As companhias farmacêuticas procuram desenvolver vacinas e fármacos, capazes de inibir a telomerase, que já demonstraram grande eficácia na inibição da proliferação de células tumorais.
A descoberta desta enzima constitui um dos principais avanços para previnir precocemente tumores.
Por: António Costa