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Questões cruciais

Há questões de excepcional importância, porque nos mostram algumas verdades perenes; e verdades perenes vistas com a nitidez que só a arte pode propiciar. Se as nossas ambições forem divinas, como eram as dos primeiros cristãos, é ao passado – e a um passado tão longínquo e profundo quanto possível – que devemos ir.

Dito de outro modo: a prognose (à letra: conhecimento antecipado, do futuro, já se vê) contém tanto mais futuro quanto maior for o investimento na retrognose (conhecimento a posteriori, conhecimento do passado).

O conhecimento do passado – e de um passado tão extenso e profundo quanto possível – é conhecimento de uma tradição. A tradição não é, então, uma ficção, mas, digamos uma concreção, um alicerce tão forte que nenhuma investida destruirá.

A tradição – o seu conhecimento e a sua preservação – é, então, uma atitude de uma suprema inteligência. Postula duas atitudes: manter e adaptar. O Moscophoro (escultura grega do século VI a.C.) não é o mero ofertante do vitelo, mas o Bom-Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas.

Empenharmo-nos vitalmente numa situação é sondá-la, investigá-la tão profundamente quanto possível. A doutrina cristã dos primórdios foi-se forjando e consolidando com Platão, os platónicos e os neo-platónicos (Plotino, v.g.), nomeadamente. Mas é obrigatório também, incluir a Patrística e a Patrologia.

Os cristãos subjugados pelo Império Romano sentiam que viviam no fim dos tempos – e que um tempo de felicidade substituiria esses tempos ominosos que eram os seus. É o milenarismo. E a postura milenarista nunca deixou de estar na História – e, pelos vistos, não só na do Ocidente –, desde, v.g., os movimentos religiosos medievais e modernos até aos contemporâneos e hodiernos. Contemporâneos são, v.g., o comunismo e nazismo; e um milenarismo hodierno é atitude de Bush ao invadir o Iraque.

Outra absolutamente importante nota a reter é esta: uma identidade, uma vez criada, persistirá saecula saeculorum, pelos séculos dos séculos.

Anelando uma renovação espiritual, empenhado para além da vida e da morte terrenas, o Cristianismo dos primórdios foi uma síntese, melhor, uma conciliação de dois opostos: a tendência humanista provinda do Helenismo e que fomentava o fascínio pela forma (a forma é a visível imagem do espírito); e a tendência dualista, provinda dos cultos orientais, em que o Bem e o Mal eram antitéticos e propondo a ascese e despreendimento do mundo terreno.

A importância da imagem apresenta-se assim como a importância do espírito e, deste modo, toda a cultura ocidental se tornou uma cultura, uma civilização icónica, desde esse momento até, v.g., à publicidade na televisão ou a arte pop.

O Cristianismo trouxe a imagem, bem como o optimismo, porque o humanismo helénico era optimista – era agónico (o resultado obtém-se pelo esforço). Este optimismo era uma nova expressão na fé no ser humano. Ao reconciliar opostos (não odiar ninguém, perdoar, banir ressentimentos), ao reconciliar opostos e diferenças, a sua potência teórica, os seus fundamentos, eram intangíveis.

Se, desde os mais prístinos tempos, toda a arte foi uma emanação religiosa, agora, com o Cristianismo, o paradigma religioso muda. Muda, também, o paradigma artístico, está bem de ver.

Guarda 28-V-09

Por: J. A. Alves Ambrósio

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