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O Expresso das Beiras

Observatório de ornitorrincos

A partir desta semana O Interior é distribuído nos quiosques da região com o jornal Expresso. Este facto faz recair uma maior responsabilidade sobre os colunistas do semanário regional, especialmente o que habitualmente se espreguiça na penúltima página. Com esta decisão, o leque possível de leitores do Observatório de Ornitorrincos estende-se agora aos fiéis de publicações tão prestigiantes como a Única, o Expresso Emprego e o jornal de golf. O sábado foi decretado como o dia oficial da distribuição de informação especializada com os jornais. É a informação regional de O Interior no Expresso, é a sociologia popular da revista Nós no novo I, é a ficção científica da revista País Positivo no Público.

Para ser sincero, o meu receio não é ser comparado com Henrique Raposo, que por coincidência ocupa graficamente um espaço semelhante ao meu no caderno principal do Expresso. Não se comparam Rolls Royces (a coluna de Raposo) com triciclos (esta). Mas apavora-me a ideia de ser estilisticamente dissecado por alguém que espera saber as últimas sobre o green de Vilamoura e se depara com textos idiotas genericamente intitulados a partir de espécies estranhas. Transpiro por imaginar não estar à altura das expectativas. Utilizando a gíria golfista, vou esforçar-me por nunca ultrapassar a fasquia do “bogey”, uma tacada acima do par, embora por razões de natureza masculina gostasse de conseguir todas as semanas um “birdie”. Como os leitores saberão, é assim que no golf se designa quando se percorre um buraco com uma tacada abaixo do par. Fazer um “eagle” (duas tacadas abaixo do par) numa só tarde é que já não parece aconselhável para alguém que há muito passou dos 30.

Os leitores que desconheciam completamente a existência do Observatório de Ornitorrincos e também aqueles que só agora tiveram contacto com O Interior devem ser informados do seguinte: apesar do bicho que lhe dá nome, a coluna séria sobre factos científicos está algures aqui ao lado. Esta que agora vos ocupa o tempo não é séria, não é sobre factos e mesmo assim não é científica.

O Observatório de Ornitorrincos é escrito há cinco anos de uma forma praticamente igual à vida sexual do autor – sozinho e em frente a um computador com ligação à internet. Previsivelmente vai por aqui continuar, ainda que os leitores do Expresso preferissem os artigos humorísticos de João Carlos Espada. Os leitores podem, se quiserem, continuar a passar por aqui por sua conta e risco. No entanto, se Bourdieu tinha alguma razão, os leitores de classe A/B do Expresso não trocam as páginas de golf por artigos sem piada, assunto ou nomes de socialites. O único conforto que me resta e me deixa dormir descansado é que a minha mãe também não compra o Expresso e ainda não é desta que ela vai descobrir que sou colunista num jornal em vez de pianista num bordel.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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