As contas dos partidos são campo fértil para todo o tipo de demagogia barata. Mas a nova lei do financiamento partidário e as contas das Europeias só podem ser uma brincadeira de mau gosto. Afinal, os partidos estão ricos. Com o nosso dinheiro.
É só fazer as contas, como diria o saudoso engenheiro Guterres. Na campanha das Europeias, esse acontecimento que deixa metade do país na praia e a outra metade na indiferença, os partidos vão esmerar-se no descaramento. Vão gastar mais do dobro do que em 2004. O cenário é assustador e muito claro.
O Bloco de Esquerda vai gastar mais 301% (sim, leu bem, trezentos e um por cento) para arranjar companhia a Miguel Portas em Bruxelas. Não sei porquê, mas quando vejo estes números lembro-me dos adjectivos superlativos que os dirigentes do Bloco reservam à ganância do grande patronato. O frugal PCP vai gastar mais 185% para eleger a eterna Ilda Figueiredo e uma lista cheia de professores da Fenprof.
O PSD, que tem uma líder que faz metáforas com Ferraris e que passa o dia a chamar a atenção para o dinheiro que não temos, vai gastar mais 95%. Não sei se o Paulo Rangel contratou os Megadeth para animar os comícios, talvez seja isso… O CDS chamou a atenção para este escândalo e é o mais poupadinho. Mas não resiste a subir 27% nos gastos. O PS, que costuma ser o rei deste pandemónio, aguentou nos 9% e passa a segundo no despesismo, graças ao devaneio momentâneo do PSD.
O mais bizarro é que tudo isto acontece quando o Presidente da República apelou à contenção de gastos na campanha. Os partidos pura e simplesmente ignoraram Cavaco. E, neste caso, ignorar Cavaco é ignorar o país inteiro. É brincar connosco.
Além de decidirem gastar muito mais numa altura em que todos gastamos muito menos, ainda aprovaram (por unanimidade, claro) a nova lei de financiamento partidário. Uma lei que volta a abrir as portas ao dinheiro vivo, o paraíso da corrupção, que tem artigos mal feitos, e que pura e simplesmente permite aos partidos passarem pela crise sem darem por ela.
Os partidos choram o fecho de fábricas e a falência de bancos, vivem da crise e para a crise. Mas deixam-na para nós. Eles, coitados, não conseguem viver sem o Quim Barreiros num comício, cartazes foleiros à beira das estradas e coisas “à Obama”. Nós vivemos pior, com menos dinheiro mas com a conta do banco escancarada, com orçamentos reduzidos mas com impostos galopantes, com leis feitas à pressa mas com multas pesadas, com liberdade mas com chips nas matrículas. No meio disto o Parlamento discute a vida dos animais no circo. Compreendo: se me aumentarem o orçamento do “Expresso” em 301%, também me vou preocupar com assuntos patetas.
Por: Ricardo Costa