Na pequena aldeia de Forcadas, no concelho de Fornos de Algodres, já só restam nove habitantes. Aqui, existe pouco mais do que um aglomerado de casas em ruína, ao longo de ruas desertas, e gente que divide o tempo entre as lides do campo e as conversas com a escassa vizinhança. «Mas acha que é motivo para nos deixarem a estrada assim?», interroga a habitante mais idosa da terra, Cândida Pina, de 90 anos. A via liga a localidades às duas freguesias vizinhas, Maceira e Matança, só que “estreitou” com uma recente intervenção da autarquia.
«Só dá para um carro de cada vez e se aparecem dois é o cabo dos trabalhos», repara a idosa, para quem este é apenas um dos exemplos do quanto a aldeia está a ser negligenciada pelo poder local. A estrada de acesso às Forcadas – anexa de Matança – nunca foi propriamente espaçosa, mas antes de a autarquia substituir o asfalto, há cerca de três meses, conseguiam passar dois carros. «O problema é que agora as bermas estão tão fundas que os automobilistas estão sujeitos a estragar o carro», refere, por sua vez, Helena Costa. «Este tipo de condições só leva as pessoas a afastarem-se ainda mais da terra», queixa-se a moradora mais nova da aldeia, com 61 anos, que diz recear que a população das Forcadas desapareça de vez nos próximos anos. Um destino que considera «inevitável», até porque a última criança nasceu há 37 anos, mas considera que até lá a Junta de Matança e a Câmara têm o dever de assegurar «as condições mínimas» à população.
«Fomos esquecidos por todos», considera. E a lista de reclamações não se fica pela estrada. Helena Costa desafia de seguida Cândida Pina, a vizinha, a mostrar a «vergonha» que está na rua que ladeia a sua casa. Apoiada nas suas duas bengalas, a idosa lá se dirige à ruela intransitável devido à densa vegetação que ali se acumulou. A moradora acrescenta que, no último Verão, foi à Junta e à Câmara pedir o corte do matagal, mas em vão. «É que tenho medo que a bicharada trepe as paredes para a minha casa», justifica. Já mais à frente, o caminho que dá acesso à única atracção turística da terra, a necrópole medieval do século VII-VIII, só não está cheio de silvas porque os próprios moradores se preocupam em cortá-las regularmente, garantem as duas mulheres.
Autarquia garante resolução dos problemas
E depois há os problemas com a água que abastece a povoação há 40 anos, que vem de uma nascente situada em propriedade privada. O abastecimento público é assegurado através de um acordo entre o município e o proprietário do terreno – o mesmo que há três anos decidiu fechar a nascente, sem dar explicações, deixando os populares sem água durante duas semanas. No Verão, altura em que a população da aldeia quase triplica com os emigrantes, vai faltando a água. «Ainda por cima tiraram as torneiras dos nossos dois fontanários para não gastarmos», lamenta Natércia Martins, outra habitante das Forcadas, que se junta à conversa. Diz desconhecer quem tirou as torneiras, mas suspeita do dono do terreno. Além disso, nota que a água não é potável, tendo a população que recorrer a cursos de água localizados noutras freguesias para beber e cozinhar.
Confrontado o presidente da Câmara de Fornos de Algodres, José Miranda afiança que a povoação das Forcadas não está esquecida, referindo a substituição do asfalto da estrada como exemplo de que continua a haver investimento na pequena aldeia. «O que se passa é que havia um prazo de execução a cumprir nessa obra, financiada por fundos comunitários, e um determinado valor», explica o edil. Agora, a autarquia tenciona avançar para trabalhos complementares, de forma a melhorar a via e as bermas, garante José Miranda, que, sem apontar datas, diz que estarão no terreno «logo que possível». Em relação aos problemas com a vegetação, o edil diz desconhecer o problema, fala numa «eventual distracção por parte da Junta da Matança» nesta matéria, para depois assegurar que a situação será resolvida «quanto antes». Já no que toca à água, o presidente fornense reconhece haver um problema, mas também que estão a ser estudadas soluções. Segundo José Miranda, o acordo com o dono do terreno onde fica a nascente acaba no fim do ano, altura em que a edilidade já terá uma alternativa, que poderá passar pela realização de um furo ou por «uma solução a encontrar na freguesia da Matança», refere.
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