A empresa têxtil Beiralã, em Seia, está em processo de insolvência, a pedido de um dos credores, a firma francesa Chargeurs Wools, que o havia solicitado em Dezembro do ano passado. O anúncio feito no início deste ano pelo administrador da Beiralã de que havia interesse por parte de empresários da região em viabilizar a empresa «não passou do plano das intenções», lamenta o coordenador do Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA), Carlos João, que revela terem já sido despedidos 120 trabalhadores.
«Recebemos esta terça-feira o despedimento colectivo dos trabalhadores que estavam com os contratos suspensos e o mais provável é que cheguemos à assembleia de credores sem os restantes, perto de 90», afirma o sindicalista. O Tribunal Judicial de Seia, que proferiu sentença de declaração de insolvência no primeiro dia deste mês, fixou um prazo de 30 dias para reclamação dos créditos, tendo designado o dia 1 de Junho para a realização da assembleia de credores. Segundo as contas do sindicalista, que não arrisca números concretos, deverão existir créditos superiores a 10 milhões de euros. «Já tive mais confiança neste processo», confessa Carlos João, dizendo que não voltou a ouvir falar dos potenciais interessados referidos pelo administrador da empresa em Janeiro. Na altura, Rui Cardoso anunciou que seriam constituídas duas sociedades para explorar a Beiralã, com uma delas a dedicar-se à comercialização de fios – o que representaria uma novidade para a fábrica têxtil.
A ideia era a empresa laborar dois ou três meses com estas duas sociedades, pedindo-se depois a insolvência. O problema é que nessa altura já aquela empresa francesa fornecedora de matéria-prima tinha solicitado ao Tribunal de Seia, por via electrónica, o pedido de insolvência, com Rui Cardoso a anunciar que iria tentar travar o processo.
«Esperemos agora que apareçam propostas de viabilização da Beiralã, que, como se sabe, podem ser apresentadas até ao próprio dia da assembleia», adianta o sindicalista. Em relação aos trabalhadores, Carlos João refere que está agendada uma reunião para segunda-feira, onde serão abordadas todas as questões relacionadas com o processo e «informados da situação dos que já foram despedidos». Em relação aos salários, todos os funcionários têm a receber o mês de Agosto do ano passado, sendo que quem estava com os contratos de trabalho suspensos ainda aguarda o pagamento de quinze dias relativos a Setembro.
Os problemas da Beira Lã começaram a acentuar-se no último trimestre do ano passado, quando Rui Cardoso anunciou que a empresa não tinha condições para pagar os salários a todos os trabalhadores. Em Setembro, parte deles decidiu suspender os contratos de trabalho, de forma a poderem usufruir do subsídio de desemprego, e os restantes acabaram por fazer o mesmo ainda antes do Natal. A firma chegou mesmo a encerrar as portas, tendo já durante este ano retomado a laboração e readmitido progressivamente alguns dos trabalhadores.