No tocante a um texto sobre Olivença há tempos escrito no “Público” (29-I-09) é instante declarar o que segue.
Olivença não é apenas uma questão por resolver para qualquer português que se preze, sim, também, para qualquer homem que considere a prioridade e intangibilidade de princípios éticos e morais na política e nas relações internacionais.
Toda a arte que existe em Olivença, lembremos, v.g., o castelo edificado por D. Dinis e o Manuelino, é portuguesa; e se, durante um bocado de uma tarde de Verão, por exemplo, penetrarmos para além do rosto de um oliventino, criança que seja, concluímos que não são rostos de espanhóis os que contemplamos. Podem já não ser bem portugueses – mas de espanhóis (estremenhos, castelhanos, valencianos, andaluzes…), isso não são de certeza absoluta. E não serão bem portugueses, porque dois séculos de imperialista ocupação assim o determinaram.
Mais. Há já bons pares de anos, decidi ir até à ponte destruída sobre o Guadiana e, logo ao lado do lugar onde estacionei a auto-vivenda, uma placa indicava “Finca Portugal”. Por que será uma tal placa?
«Olivença é uma pérola portuguesa incrustada na Extremadura», dizia, há pares e pares de anos, “El Pais”, ou no seu suplemento cultural (“Babelia”) ou no de viagens (“El Viajero”). Conservo o xis castelhano em Extremadura. Não guardei o periódico para o citar com rigor. Quanto à identificação do rosto não carece ser hiperestésico para o concluirmos.
Ademais, alguém suficientemente familiarizado com a Europa, desde a Grécia a todos os países nórdicos, está, a fortiori, tranquilo ao afirmá-lo.
Ou seja: seria estupendo que o jornalista (Nuno Pacheco) fosse mais perspicaz, informado, sabedor e viajado. Não estou a ser diminutivo e desejo-lhe o máximo de felicidades. Mas por que não se recorda daquilo que, ainda há tempos, a esse respeito, no “Público”, dizia o senhor general Loureiro dos Santos, esse excelente colaborador? Sim, porque o “Público” tem colaboradores à altura de uma civilização ou de uma cultura, como (ordem alfabética), v.g., Carlos Fiolhais, Cintra Torres, Santana Castilho ou Vasco Pulido Valente – sem demérito para outros mais e da… nulidade ou vulgaridade que também escreve no seu espaço. Não obstante, há dias em que o “Público” surge como um estupendo jornal.
Ironizando – repito: ironizando – apetece perguntar ao jornalista quanto lhe foi pago pelo inimigo para escrever um tal texto. É que o ângulo que apresenta confunde-se com o texto oficial que, na altura da visita, me foi fornecido. Aliás, nada me espantava que tal texto persistisse em Olivença.
Foi uma tão dolorosa experiência que nunca mais voltei a essa terra portuguesa. Por que é que uma mutilação territorial, espiritual (a arte portuguesa lá está) não há-de ser uma mutilação ontológica?
E, já que falámos de espiritualidade e arte, quero deixar claro que esta espiritualidade não é a de que se reclamavam fauves, futuristas, cubistas, expressionistas…, porque essa potente vitalidade dos movimentos de vanguarda e a sua belicista militância sabemos a que conduziu. Não posso deixar de lembrar Hugo Grócio: «Uma flagrante injustiça poderá, com o tempo, tornar-se um direito?».
Para melhor esclarecimento e actualização da questão deve acrescentar-se mais.
Em 12-IX-1997, no próprio dia do sétimo centenário do Tratado de Alcanizes, em Stª Maria de Aguiar, o então ministro dos Assuntos Exteriores de Espanha, D. Federico Trillo, afirmou que «na questão de Olivença a Espanha não tem defesa».
Acabado o momento das comunicações, e quando estava acompanhado pelos Drs. Almeida Santos e António Vitorino, dirigi-me a D. Federico Trillo e, na presença dos referidos senhores, disse-lhe: «Muchísimas gracias por sus palabras D. Federico».
7-III-09
Por: J. A. Alves Ambrósio