The Bob Sands Big Band (http://www.bobsands.es/)
“Seia Jazz & Blues” – V Festival Internacional de Jazz e Blues de Seia
Cine-Teatro da casa Municipal da Cultura
7 de Março, pelas 21:45 Horas
A edição do Festival este ano encerrou as suas portas da melhor maneira. O público português não está, regra geral, muito habituado a assistir a espectáculos com “orquestras” de Jazz. Com efeito, as apresentações de grandes bandas são raras e reservadas para grandes festivais ou programadas para grandes casas de espectáculos. Conseguir trazer uma banda desta dimensão – lembro que nela participam 21 elementos – é já por si um acontecimento. Só possível, segundo a organização, devido ao facto do líder e restantes músicos estarem radicados em Madrid. Foi portanto a proximidade que facilitou a empresa. Por onde começar? Bob Sands é nova-iorquino. Segundo a sua página oficial, cedo se dedicou ao saxofone. Depois de um vasto currículo e de uma carreira com algumas distinções pelo meio, em 1992 radica-se em Madrid, onde ainda vive e trabalha. Tocou com: Lionel Hampton, The Glenn Miller Orchestra, Dizzy Gillespie, Paquito D’Rivera, Gerry Mulligan, Mel Lewis, Gary Smulyan, Clark Terry, Mark Murphy, Dee Dee Bridgewater, Ron McClure, George Mraz, Kurt Weiss and J.J. Johnson, entre outros. Como curiosidade, já tocou também com Bernardo Sasseti. Em 1998 gravou o seu primeiro disco em Espanha para a editora Fresh Sound New Talent, onde participou, entre outros, o nosso conhecido Carlos Barreto. Actualmente, trabalha como líder de vários projectos, com destaque para o seu trio, quarteto e esta “The Bob Sands Big Band”. Lecciona também na “Musikene” em San Sebastian. Por último, como prova da sua heterodoxia, regista algumas participações noutras áreas musicais. Uma carreira prometedora, sem margem para dúvidas.
Foi pois com uma enorme curiosidade que corri a assistir a este concerto. Como já anteriormente tinha dado conta, esta sala apresenta algumas deficiências no que toca à qualidade sonora. Não sei se devido à sua concepção, ou se o sistema de som não estava devidamente configurado nos espectáculos a que assisti. Essa dúvida manteve-se no caso presente. Tanto mais que uma intensidade e diversidade sonora como a daquela noite exigia cuidados especiais. No entanto, ao longo da prestação, por via certamente de ajustamentos, o som melhorou francamente. Sobre o espectáculo em si, foi simplesmente memorável. O acerto aliado ao virtuosismo proporcionou à assistência grandes momentos de jazz. Embora correndo o risco de ser injusto, destaco a prestação do trompetista Raul Gil. Cujo particular fulgor, com acentos de um límpido lirismo, encheu a sala. Foram passados em revista alguns standards, como “Groovin Hard”, ou “Love for Sale”, de Buddy Rich. Seguiu-se um vendaval de jazz orquestral de primeira água, O que incluiu alguns temas clássicos, que soaram na sala como se tivessem sido compostos no dia anterior: de Kenny Dorham a Count Basie, de Sammy Nestico a Frank Foster. A forte presença dos metais apoiada por uma poderosa secção rítmica, não impediu, contudo, aqui e além, soberbas intervenções, protagonizadas por alguns dos solistas “de serviço”. No fundo, oportunidades para a orquestra ganhar fôlego até ao próximo “ataque” que se seguiria.
Em resumo, acerca deste espectáculo, só caberia acrescentar: pelo que foi referido e por tudo aquilo que não se conseguiu expressar, sem dúvida que Seia foi merecidamente a capital, por um dia, do Jazz em Portugal.
Ana Free
(http://www.anafree.homepage.t-online.de/84301/home.html
Teatro-Cine de Gouveia
14 de Março, 21.30h
A cantora é um caso sério de popularidade, a julgar pelas audiências. Ana Free é luso-inglesa e vive actualmente na pérfida Albion. A sua ascensão no mundo do espectáculo deveu-se, segundo rezam as crónicas, ao uso intensivo das novas ferramentas de comunicação da Web 2.0. A partir das quais deu a conhecer a sua música. Com especial destaque para o famigerado You Tube, onde colocou os seus vídeos caseiros, usando a sua voz uma omnipresente guitarra. Interpretava canções originais e algumas versões de standards famosos, dos Rolling Stones a Ben Harper. Pouco depois, esses clips já contavam com mais de seiscentas mil visualizações A coisa, claro está, deu que falar. E certamente os convites para gravações e espectáculos não tardariam a chegar. Pois bem, ao que parece, o seu primeiro e, até agora, único single, “In my Place!”, é um dos temas mais passados nas rádios nacionais de referência. O mediatismo deveu-se, em grande medida, à utilização do tema num anúncio publicitário de uma conhecida operadora móvel. E assim, em questão de meses, nasceu um fenómeno musical com repercussões internacionais. Os números realmente impressionam: 7,8 milhões de visitas aos seus vídeos; mais de 25.000 subscritores; number one do top português no Itunes; 62 vídeos da sua autoria no You Tube; o motor de busca do Google devolve mais de seis milhões de entradas com o seu nome! Ups! Pena é que a sua página do Twitter seja de uma pobreza franciscana. É certo que este jovem não é caso único, no que diz respeito a um semi-estrelato tão fulgurante como incompreensível. Possível graças à Web, como já se referiu. O problema está na vulgaridade musical evidenciada pela compositora/intérprete. Com possibilidade de progredir, é certo. Mas creio não vir a passar de um epifenómeno, incubado no ciberespaço e rapidamente engolido pela voragem mediática. Uma espécie de Floribela baladeira. Poderia ser diferente? Talvez, mas espero sinceramente não estar enganado, pois criações destas acontecem todos os dias. Mesmo que as inevitáveis e rebuscadas comparações com Sheryl Crow comecem a aparecer. O concerto, como se esperava, foi um delírio para os incondicionais e uma oportunidade para a rendição dos fãs de última hora. Apesar do profissionalismo e à vontade demonstrados por Ana Free. Pela minha parte, só confirmei o que já esperava.
Por: António Godinho Gil