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Uma campanha “cinco estrelas”

A Câmara da Covilhã é suspeita de ter financiado anúncios publicitários com verbas do programa LEADER

A Câmara da Covilhã aparece ligada a uma nova polémica. Desta feita, está em causa a campanha publicitária “Covilhã – cidade cinco estrelas”, financiada através do recurso a verbas do LEADER, programa comunitário destinado ao desenvolvimento dos meios rurais.

O autarca Carlos Pinto também é presidente da Associação de Desenvolvimento Rural RUDE, responsável pela execução dos fundos LEADER na Cova da Beira, através da qual candidatou a referida campanha publicitária ao financiamento comunitário. Só que, segundo avançou o jornal “Expresso” do último sábado, o gestor do programa a nível nacional, Rui Batista, estranhou a falta de relação directa entre a campanha e os objectivos do programa e pediu esclarecimentos à autarquia por considerar este tipo de despesas «pouco habitual». A campanha, lançada recentemente, tem sido divulgada em todo o país através de “outdoors”, em jornais e revistas de informação ou de entretenimento ou mesmo na revista de bordo da TAP, sendo que os anúncios ostentam o logotipo da RUDE e do LEADER. O “Expresso” adianta ainda que o responsável máximo da Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural – o organismo que superintende as associações LEADER – escreveu a Carlos Pinto a 13 de Setembro, pedindo alguns esclarecimentos sobre a campanha. Mas, segundo Rui Batista, a autarquia ainda não terá respondido.

Acusações que o vereador Luís Barreiros – que O INTERIOR contactou depois de Carlos Pinto se recusar a falar sobre o assunto – refuta. «Já respondemos ao senhor engenheiro, ele sabe que tem nas suas mãos a nossa resposta, suficientemente cabal, até», afirmou. Para o vereador, a campanha publicitária em causa «é perfeitamente financiável ao abrigo do programa», mesmo se se tiver em conta que pretende financiar projectos de desenvolvimento rural. «Nós não estamos em Lisboa, não se trata de publicitar o Marquês de Pombal, mas antes a Covilhã, que é um território 80 por cento rural», justifica. Alegando tratar-se de um projecto «totalmente transparente», Luís Barreiros socorre-se dos resultados conseguidos com esta promoção. «Em boa hora que realizámos esta campanha, pois tem tido enormes resultados em termos de promoção turística, com os hotéis cheios todos os fins-de-semana. Tem havido um aumento de visitantes, uma afluência enorme», assevera.

Nova campanha, mas com «fundos municipais»

De resto, o vereador garante que a autarquia apresenta candidaturas «a tudo o que é fundos comunitários e esta campanha não foi excepção» e sublinha que nada acontece por acaso. «Esta é uma tentativa de ataque por parte de pessoas e instituições, por se tratar de uma medida positiva levada a cabo pela Câmara da Covilhã. Há uma outra entidade candidata ao LEADER na Cova da Beira [a ADERES] e interesses políticos e partidários na origem destes rumores que pretendem denegrir a imagem da autarquia», acusa. Mas, e apesar de se tratar de um processo «transparente», na Câmara da Covilhã ninguém parece querer quantificar os montantes envolvidos na campanha publicitária. Luís Barreiros adiantou apenas que, neste momento, «está integralmente paga». Por isso, diz que se o dinheiro vier «tanto melhor, mas se não vier está tudo bem na mesma».

Segundo o “Expresso”, a RUDE candidatou 800 mil euros ao LEADER e no pacote contam-se despesas como a Feira de S. Tiago – que incluiu uma série de concertos, mesmo apesar de não ter nenhum “stand” agrícola.

Além disso, Rui Batista adiantou que a RUDE é, no universo das 52 associações de desenvolvimento rural financiadas pelo programa, a que tem a pior taxa de execução, garantindo mesmo que «sempre foi assim». Contudo, os números de Luís Barreiros são bem diferentes. «A execução, mesmo nos programas anteriores, foi sempre de 100 por cento. A RUDE gastou sempre todo o dinheiro que lhe foi concedido e o importante é mesmo isso, conseguir absorver todos os fundos», sustentou. «O grau de execução apresentado não coincide com o nosso, que ronda os 90 por cento. Dá a sensação que o senhor engenheiro não sabe do que está a falar e que já não deve pegar no “dossier” há muito tempo», ironizou. Os dados avançados pelo semanário “Expresso” dizem que, em Junho, a RUDE tinha por executar 906 mil euros, pelo que, avizinhando-se um novo quadro comunitário, estes fundos ficariam “perdidos” se não fossem aplicados até ao final de 2008. Terá sido depois dessa avaliação que a autarquia lançou a publicidade “Covilhã – cidade cinco estrelas”. Polémicas à parte, Luís Barreiros adianta que o município até está a equacionar a possibilidade de «renovar» a campanha. Só que desta vez recorrendo a «fundos municipais».

Rosa Ramos

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