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Avaliação

Há os que cumprem, os que não cumprem e os bons, ou excelentes. Há também os que podiam ser muito bons, ou apenas bons, e não são. Assim como há os que cumprem, e por vezes muito bem, mas o fazem de tal forma que se incompatibilizam com toda gente, de tal forma que lhes são preferidos alguns menos competentes – mas de melhor feitio. Quanto maior for a responsabilidade e a dificuldade do trabalho, maior a urgência de se avaliar quem o faz. É que é indispensável, a qualquer empresa ou organização, saber recompensar e segurar os bons, recuperar ou castigar os maus e estimular os assim-assim. Não se pode é ficar na ignorância de quem é bom e de quem não presta, sobretudo quando o factor humano for decisivo.

A avaliação de um profissional tem necessariamente de ser complexa, tantos os parâmetros envolvidos, e tanto mais complexa quanto maior seja a importância e a dificuldade das suas tarefas. Esse profissional deverá ser protegido contra avaliações maliciosas, ou favorecimentos, pelo que é indispensável que o sistema de avaliação seja transparente e verificável. A avaliação deverá prever objectivos, não necessariamente acordados com o profissional mas devendo ter em conta as necessidades da empresa, ou organização, e as capacidades de um profissional normal. Esses objectivos irão nortear a actividade do avaliando e facilitar (e tornar objectiva) a avaliação do seu desempenho.

Tudo isto parece evidente. São também evidentes as dificuldades do nosso sistema de ensino e são muito discutíveis os seus resultados. Apesar dos muitos milhares de milhões de euros que se foram gastando na educação, parece evidente que os conteúdos dos programas de ensino não têm transitado com facilidade para a cabeça dos alunos. A culpa não pode morrer solteira, mas pode ter neste caso vários suspeitos. Antes de mais, os autores dos programas, que podem ter estipulado objectivos impossíveis de cumprir, quer pela complexidade das matérias, quer pelo tempo em as mesmas devam ser ministradas. Depois os próprios alunos, pouco motivados para o trabalho duro e cada vez mais dirigidos para o hedonismo puro e duro, ainda por cima mal acolitados pelas suas famílias. Finalmente os professores, tantas vezes disponíveis para encontrar outros culpados, a começar pelo Ministério da Educação, e tão poucas para reconhecer a sua própria responsabilidade.

Queiramos ou não, seja totalmente justo ou não, os primeiros e mais visíveis responsáveis pelo actual estado do ensino em Portugal são os professores. Avaliá-los a todos como “bons”, como fizeram na Madeira, é o mesmo que não os avaliar de todo. Não os avaliar é ignorar de vez uma das variáveis, talvez a mais importante, dos problemas da educação em Portugal.

A administração pública está sujeita a um sistema integrado de avaliação de desempenho (SIADAP). Este passa por fixação de objectivos, auto e hetero-avaliação. É necessário preencher formulários, por vezes complexos, mas isso não tem significado grandes problemas entre a maioria dos destinatários do sistema. Admito que os professores discordem de aspectos pontuais do sistema de avaliação proposto pelo Ministério da Educação (no essencial e nos seus traços gerais equivalente ao SIADAP) e é bom que apresentem propostas de correcção dos pontos que achem menos correctos. Não podem é querer ser mais que os outros funcionários do Estado e esquecer que um sistema de avaliação de desempenho, mesmo que seja mau, é muito melhor que não ter nenhum.

Por: António Ferreira

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