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FALAR CLARO

Porque se tem dificuldades a Matemática?

Não há uma resposta simples nem única para esta questão. Se calhar algumas pessoas têm dificuldades em Matemática por razões semelhantes às que levam outras pessoas a terem dificuldades em Língua Portuguesa ou em Música: por acharem o assunto desinteressante, por não compreenderem conceitos essenciais, por falta de motivação e empenhamento pessoais, etc.

O que se passa de diferente com a Matemática é que, infelizmente, desde há muitos anos que, na sociedade, está fortemente difundida a ideia de que esta disciplina é particularmente difícil e só acessível àqueles que nasceram com “queda” para a Matemática.

A experiência de professora ajuda a explicar essas dificuldades?

Através da minha experiência como professora constato que algumas das dificuldades em Matemática estão relacionadas com a não compreensão de certos conceitos básicos que servem de âncora à aprendizagem de novos conceitos. Por exemplo, se um aluno não entender o significado de número inteiro relativo, dificilmente aprenderá a fazer operações com números inteiros relativos e, posteriormente, será complicado aprender a resolver equações. Em Matemática é fundamental estar muito atento na aula e não deixar acumular dúvidas. É uma disciplina que requer um estudo quase diário. Outras dificuldades resultam da falta de persistência perante tarefas que não se conseguem resolver rapidamente. Costumo dizer que o lápis e a borracha são os fiéis companheiros de um bom aluno a Matemática. Se o aluno não chegar ao resultado na 1ª tentativa, há que arregaçar as mangas e tentar mais outra e outra vez. E se mesmo assim não resolver o problema, lá estará o professor para orientar e ajudar. É fundamental ser persistente em matemática e muitos dos nossos alunos, hoje, desistem muito facilmente duma tarefa, se ela é mais exigente e/ou longa. Por último, há dificuldades que se prendem com o carácter abstracto dos conceitos matemáticos. Uma linha recta, um número, uma equação não têm uma existência física. São ideias.

E o regresso ao cálculo mental e à tabuada valeriam de alguma coisa?

O cálculo mental é, sem dúvida, extremamente importante e é pena que durante alguns anos tenha sido desvalorizado. Felizmente, assistimos hoje a uma inversão da situação como se pode constatar quando lemos o novo programa de Matemática do ensino básico. Sem os alunos desenvolverem estratégias de cálculo mental, dificilmente serão capazes, por exemplo, de fazerem estimativas razoáveis ou de analisarem criticamente o resultado obtido quando usam uma calculadora. Ora, ninguém consegue desenvolver estratégias eficazes de cálculo mental sem saber a tabuada. Por isso, é importante, não apenas compreendê-la, mas também memorizá-la. Aliás, compreensão e memorização não são aspectos incompatíveis entre si. É importante que os alunos compreendam, por exemplo, que 2×7 significa 7+7, ou seja, que podem calcular este produto recorrendo à adição de parcelas iguais. Mas isto não basta. Num determinado momento da sua aprendizagem 2×7 =14 deve ser um facto memorizado. Indicar o resultado deste ou doutros produtos deve estar ao nível dos automatismos. Caso contrário, muito dificilmente conseguirão calcular mentalmente 12×7 e justificar que o resultado é 84 porque adicionaram 70 (10×7) com 14 (2×7).

O professor Castro Caldas tem um estudo que mostra que as crianças que decoram aa tabuada e aprendem automatismos numa fase precoce desenvolvem fisicamente certas partes do cérebro. Muitos pensam que têm de fazer musculação para desenvolver os músculos, mas não necessitam de fazer exercícios mentais para desenvolver o cérebro… A boa notícia é que as capacidades do cérebro podem ser desenvolvidas. Só temos que pôr mãos à obra.

Recolha de Ana Logrado e Ana Igreja (9º D)

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