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Crónica

QUATRO PAREDES

Lembro-me que o meu livro andou perdido durante meses simplesmente porque não fazia diferença levar ou não levar livro. Aquela professora era a professora “ideal”, segundo os meus colegas de turma do 6º ano. Dava as aulas para os dois ou três que conseguiam prestar atenção. O resto, era só brincadeira.

O máximo que aquela professora fazia era bater com o livro de ponto na mesa (que eventualmente acabou por se estragar) e durante 10 segundos fazia-se silêncio na sala. Nos testes, nem precisávamos de copiar uns pelos outros, porque bastava pedir uma pequena ajuda da professora e ela própria nos dava a resposta.

Mas a recordação mais forte (e talvez cómica, embora hoje não tenha piada) passou-se num dia normal primaveril. Como de costume, toda a turma se encontrava excessivamente divertida na aula de Ciências Naturais, ao último bloco da tarde. Mas naquele dia fomos um pouco mais longe e testámos os limites da paciência daquela professora. Havia rapazes a saltar em cima das mesas e um sem fim de chuva de bolas de papel voava sobre nós. As raparigas, ainda que um pouco mais calmas, conversavam de uma ponta à outra da sala e riam-se às gargalhadas. Resumindo: uma barulheira infernal e uma confusão descomunal. E pela primeira vez, a professora mostrou que tinha alguma autoridade sobre nós: marcou falta ao Joel naquilo que restava do livro de ponto. Com orgulho e satisfação, lá saiu o Joel da sala. Mas nem com isso a turma acalmou, e a confusão era tal que o Joel, como se fartou de estar lá fora sem fazer nada, conseguiu voltar a entrar na sala pela porta das traseiras e sentar-se no seu lugar sem que a professora desse conta de nada.

E agora que olho para trás através de uns olhos mais experientes, pergunto-me: de quem era a incompetência afinal? Da professora ou dos alunos? É que nem sempre a culpa é só dos alunos como muitos professores pensam, e nem sempre a culpa é só dos professores, como todos os alunos pensam. Neste caso, o erro foi dos dois: é dever da professora educar os alunos, ou, no mínimo, fazê-los compreender a ordem de autoridade não só naquela situação de aula, como também na vida em sociedade. Da parte dos alunos, houve um abuso da liberdade que deveria, pelo menos, pesar na consciência, já que a professora tinha, ela própria, graves problemas em definir limites para a liberdade!

Diana Margarido (11.º E)

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