A Santa Casa da Misericórdia do Fundão está a ser investigada por indícios de crimes decorrentes da gestão de Manuel Correia, apresentando actualmente um passivo de sete milhões de euros. A situação foi revelada na segunda-feira pela comissão administrativa, em funções há 10 meses, que apresentou uma queixa ao Ministério Público após ser confrontada com a «débil situação financeira em que encontrou a instituição e devido a alegadas irregularidades detectadas na anterior gestão, entre 1981 e 2007».
«Há situações susceptíveis de configurar ilícitos criminais», admitiu na conferência de imprensa Jorge Gaspar, um dos membros da comissão administrativa, que adiantou que as investigações estão em curso «há alguns meses». Entre as alegadas irregularidades detectadas está uma conta bancária à margem da contabilidade por onde terão passado, entre 1993 e 2005, «mais de 500 mil euros, beneficiando pessoas sem vínculo à instituição e que não lhe prestaram serviços», acrescentou o padre Américo Vaz, lendo um comunicado distribuído pela comissão administrativa. Falta de informação sobre donativos desde a década de 70 e inúmeros imóveis que não foram registados a favor da Santa Casa são outras das situações em investigação, declarou Jorge Gaspar, alegando não poder dizer mais por o caso estar sob a alçada do segredo de justiça.
Os denunciantes queixam-se ainda de «custos excessivos na construção e fiscalização do lar Nossa Senhora de Fátima», inaugurado em 2006, mas onde há infiltrações de água e algumas zonas já ameaçaram ruir. Mas também de despesas correntes «excessivas e desconformes com as necessidades», além de um endividamento bancário excessivo – «no último exercício os juros ascenderam a 250 mil euros». Questionado sobre como foi possível a situação arrastar-se ao longo destes anos, Américo Vaz reconheceu ter havido uma «falha dos irmãos», os membros da Misericórdia, quando permitiram a «concentração de poderes numa só pessoa».
A situação perdurou até às eleições de Dezembro de 2007. Face à instabilidade vivida na Misericórdia e à falta de listas, o Bispo da Guarda, D. Manuel Felício, nomeou o pároco Américo Vaz para dirigir uma comissão administrativa. No entanto, apesar dos factos apurados, «não foi tomada nenhuma medida interna» em relação ao ex-provedor. «Nem faz sentido que haja até que à conclusão da investigação», sublinhou Jorge Gaspar. Não foi possível contactar Manuel Correia, ex-provedor da Misericórdia.