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Questionário

Não houve nunca tanta informação a circular como no nosso tempo. Nunca circulou, também, tanta informação falsa, ou incompleta. Mais de metade dos mais importantes cientistas da história da humanidade continua entre nós. E estão entre nós fisicamente, não apenas nos livros de história ou nos manuais das universidades: ainda estão vivos. Também nunca foi tão fácil como hoje cometer erros irreparáveis, quer seja por culpa do excesso de informação quer da sua deficiente compreensão. O perigoso, muito perigoso, é que são possíveis erros muito graves em decisões que seriam há pouco perfeitamente banais, ou anódinas. Por exemplo:

O seu filho quer ser professor de francês. Deve dissuadi-lo ou encorajá-lo? Se o seu filho viver em França, ou na Martinica, ou em qualquer país de língua oficial francesa, a pergunta pode ser difícil de responder. Se for em Portugal, terá de ter em consideração, antes de decidir o que fazer, o facto de haver cada vez menos jovens, o que diminui o mercado disponível para professores de todas as disciplinas, e que cada vez há menos interessados na língua francesa, que perde terreno em relação ao inglês e até ao castelhano.

Tem um dinheirito de lado e pretende melhorar a sua reforma. Onde investi-lo? (Se não tiver dinheiro nenhum, poderá dizer como um amigo meu: “menos uma preocupação!”) Se optar por um PPR, terá de recordar que estes têm inerente uma percentagem de risco, ao estarem pelo menos parcialmente aplicados em acções. Se o fizer em apartamentos ou vivendas, para revender ou arrendar, terá de pensar que há cerca de 500.000 fogos devolutos em Portugal e que precisaríamos de aumentar significativamente a população para os ocupar a todos. Precisará de considerar também que boa parte deles estão sobreavaliados, o que explica parte da actual crise do crédito e das instituições financeiras. Terá ainda de procurar imaginar o que reserva o futuro para um investimento que é tendencialmente de longo prazo. Que tal investi-lo em acções? Tudo dependerá, como é evidente, da capacidade de gerar lucros das empresas em que pretenda investir, isto sem falar do que pensa vir a ser a opinião geral do mercado em relação a essas empresas. Por exemplo: quando o petróleo estava a mais de 140 dólares o barril, parecia boa ideia investir na EDP energias renováveis. E agora, que o petróleo desceu para metade, continua a ser boa ideia? Tudo depende de o leitor acreditar que estes baixos preços são para manter. O que nos leva à questão seguinte.

Precisa de trocar de carro. Compra a gasóleo ou a gasolina? Ou opta por um híbrido? Ou contenta-se com qualquer coisa em segunda mão até ver em que dão os carros eléctricos? Há que pensar, para além da disponibilidade e do preço na origem do petróleo, na por ora esquecida questão do aquecimento global. Parece claro que a culpa é em grande parte dos combustíveis fósseis e, por isso, será de prever que os preços dos combustíveis continuarão altos, nem que seja por via dos impostos destinados a dissuadir o seu consumo. Há que considerar também que a diferença entre os preços do gasóleo e da gasolina vai ser cada vez mais pequena, até chegar-se ao ponto em que os carros a gasóleo deixarão de ser mais económicos.

Estas questões levantam hoje as maiores dúvidas, contrariamente ao que acontecia há trinta anos atrás. A vida era mais difícil mas também muito mais simples. O trágico hoje é que ninguém parece capaz de nos dar respostas para estas e outras questões essenciais do nosso quotidiano. E muito menos os nossos governantes.

Por: António Ferreira

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