Está proibida a praxe nas instalações da Universidade da Beira Interior (UBI). A decisão surge num despacho assinado pelo reitor Manuel Santos Silva, no seguimento de um documento que Mariano Gago, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, enviou ao presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). A interpretação de Santos Silva, à luz dos Estatutos da universidade, é tácita: «Não serão permitidas praxes académicas nas instalações da UBI, designadamente nas residências de estudantes, nos espaços da biblioteca, salas de aula, bar, serviços académicos ou outros que condicionem o normal funcionamento da instituição», adianta.
Tanto o ministro como o reitor lembram «situações que se revestem, por vezes, de natureza vexatória ou de ofensa à integridade física e moral, na recepção aos novos alunos». Recorde-se que, no ano passado, um aluno da Escola Superior Agrária de Coimbra ficou paraplégico e que sete estudantes da Escola Agrária de Santarém foram condenados nos tribunais, tendo ambos os casos a praxe como pano de fundo. Para terminar com este tipo de situações, Mariano Gago está pronto a levar todos os casos de «prática de ilícitos nas praxes» ao Ministério Público, responsabilizando «civil e criminalmente, por acção ou omissão», todos os organismos envolvidos, seja a própria instituição, as unidades orgânicas ou as associações de estudantes. O aviso está feito. No entanto, Luís Fernandes, presidente da Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI), rejeita qualquer envolvimento: «A AAUBI não é fomentadora de praxes, isso tem a ver com o Fórum Académico», esclarece.
O representante dos alunos mostra-se, ainda assim, flexível: «Não vejo a praxe com maus olhos. O despacho deveria ser mais moderado. Se a praxe for bem praticada, a AAUBI recebe-a bem. Mas isso não inclui coação física ou psicológica», afirma. Na sua opinião, esta posição radical da tutela fica a dever-se a «algumas pessoas que não sabem distinguir praxe normal de violência».
IPG já agiu, mas não recebeu documento ministerial
Ao que parece, só as universidades serão as destinatárias do documento de Mariano Gago. «O despacho nunca chegou à nossa instituição, nem, tanto quanto sei, à grande maioria dos Politécnicos», garante Jorge Mendes. Ainda assim, o presidente do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) diz que isso «não era necessário», uma vez que houve reuniões com a Associação Académica da Guarda (AAG) para regular a praxe, internamente e em função dos novos estatutos do Instituto. Por isso, estão «proibidas quaisquer praxes violentas no “campus” do IPG», adianta. Este compromisso terá sido «completamente assumido» pela AAG, pelo que Jorge Mendes vai tolerar apenas «questões de bom trato» que de destinem a receber bem os alunos. «A praxe deve ser alegre, com algumas brincadeiras, mas dentro dos valores de conduta a que as pessoas estão obrigadas», apela. Marco Loureiro, presidente da AAG, partilha desta opinião e diz mesmo que «a praxe é boa e recomenda-se se for bem implementada». Nesse sentido, o representante dos estudantes diz que deste grupo não faz parte «qualquer acto de abuso, difamação, ofensa e humilhação».
Contudo, o “passaporte do caloiro” que a Associação Académica distribuiu aos novos alunos do IPG ainda não se norteia por estas regras. No documento os caloiros são «bestas» que estão proibidas de andar sozinhas na rua depois das 21h30 e que devem fazer trabalhos domésticos nas casas dos veteranos sempre que estes os solicitem. Apesar disso, o dito “passaporte” também refere que «o caloiro não deverá nunca atender à praxe que ponha em causa a sua integridade física ou psicológica», embora avise mais adiante que quem «não acatar a praxe será devidamente castigado». Quanto a abusos fora do IPG, o presidente do Politécnico diz que as coisas seguirão outro caminho: «Se forem motivo para participação criminal, há recursos legais para eventuais abusos», sublinha.
Cidinho e Doca “recebem” caloiros do IPG
Entre 20 e 25 de Outubro, a Associação Académica da Guarda (AAG) organiza a tradicional Recepção ao Caloiro. As festividades começam precisamente no dia em que a associação que representa os estudantes do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) comemora 20 anos.
Para celebrar a efeméride «com pompa e circunstância», a equipa presidida por Marco Loureiro preparou vários eventos, como cerimónias oficiais – onde deverão estar representados todos os organismos do IPG – concertos e diversas actividades com vista a receber da melhor forma os novos alunos. Do programa, limitado pelo orçamento, fazem parte vários DJ’s da cidade, alguns grupos da região, as duas tunas do Politécnico e, nos últimos três dias do evento, os “cabeças de cartaz”. A 23 de Outubro actuam os Slimmy – um dos cinco candidatos ao prémio de “Artista Português do Ano” nos MTV Europe Music Awards. Já no dia seguinte será Quim Barreiros quem sobe ao palco, depois de ter passado pela Guarda na última edição da Semana Académica. No dia 25 realiza-se o tradicional desfile e, à noite, há um concerto da dupla Cidinho e Doca, autores do “Rap das Armas”, que faz parte da banda sonora do filme “Tropa de Elite”. Estes três espectáculos estão programados para o pavilhão do Estádio Municipal.
Igor de Sousa Costa