Nos raros momentos de lazer que a vida permite ao Zé, aproveitados com amargura para ter memória e consciência dos tempos, interroga-se, incomodado:
– Qual a razão dos partidos políticos não pagarem IMI e o Zé ter de pagar?
– Porque razão os políticos podem comprar carros topo de gama com o dinheiro do povo?
– Porquê o Zé empresário tem limites na sua empresa para comprar o carro, mesmo com o seu próprio dinheiro?
– Porque se concedem incentivos fiscais às grandes empresas e o Zé tem de tinir para pagar o imposto ao Estado?
– Porque razão os bancos reverenciam os grandes devedores e humilham, penhoram e executam só os Zés pequenos?
– Por que é que o Zé tem de pagar tanto imposto no combustível, o exagero nas portagens e os políticos viajam ou são reembolsados com o dinheiro do povo?
– Por que razão o Zé paga cada vez mais impostos e o Estado que os arrecada presta cada vez menos qualificado serviço público?
– Porque está reservado ao Zé como contribuinte o privilégio do erro, do engano e da culpa?
– Porque existe sobre o Zé empresário, que sobrevive para manter o emprego de outros, tanto regime discriminador, tamanha sanha persecutória?
– Que país é este em que todos querem viver à custa do Estado, esquecendo que o Estado é que vive à custa de todos?
– Que país é este em que se partidariza a promoção da Justiça, a nomeação de quadros de supervisão, o sistema financeiro, a política fiscal, as grandes empresas públicas e toda a administração direta e indireta do Estado?
Não era suposto serem os políticos a servir o Estado e este representar e servir todos os Zés?
Não é legitima a inquietação pelo abismo que separa o real do apregoado e a contradição em que os valores, a ética e a própria democracia vai morrendo?
Só encontro uma razão para o Zé ser tão discriminado, perseguido, esquecido, violentado e até abandonado. É que o Zé não veste Prada!
* Antigo presidente da Câmara de Trancoso, ex-líder da Distrital do PSD da Guarda e presidente da Assembleia Distrital do PSD da Guarda