Com a chegada das noites quentes de Verão apetece ficar noite fora a olhar para o céu nocturno. A esfera celeste que existe acima de nós transporta-nos para uma outra dimensão difícil de quantificar. As distâncias no Universo não se aproximam a nenhum valor mensurável pelos seres humanos. Só a título de exemplo, o diâmetro da nossa galáxia é de 100.000 anos-luz, o que significa que se conseguimos viajar à velocidade da luz, qual Comandante Spock, demoraríamos 100 000 anos a atravessá-la.
A observação a olho nu, também chamada observação à vista desarmada, foi a única observação astronómica possível ao longo de milhares de anos. Só a partir do início do século XVII se começaram a utilizar instrumentos ópticos para ampliar a nossa capacidade de visão. Galileu foi o percursor desta nova tecnologia com a construção de uma luneta. Este tipo de observação, embora tenha limitações óbvias, proporciona um visão de conjunto única e é altamente recomendada para quem pretenda iniciar-se na observação astronómica.
À vista desarmada, um observador normal, com a visão adaptada à obscuridade, numa noite sem Lua e sem nuvens, afastado de fontes luminosas artificiais das grandes cidades, será capaz de ver estrelas até à 6ª magnitude. A magnitude estelar é uma forma de exprimir o brilho aparente das estrelas, isto é, o brilho que elas nos apresentam, utilizando uma determinada escala. As estrelas de 6º magnitude são as estrelas de brilho mais fraco que a visão humana consegue visualizar sem qualquer instrumento.
Para observar o céu nocturno, não basta ao indivíduo sair de casa e olhar simplesmente para o céu. O processo de adaptação dos nossos olhos à obscuridade, mediante a qual a sensibilidade visual aumenta cerca de 200.000 vezes, apresenta duas fases:
– na primeira fase, que dura alguns segundos, a pupila ocular (ou pupila do olho) dilata-se, chegando a atingir um diâmetro máximo de 7 milímetros, de modo a poder colectar mais luz;
– na segunda fase, que demora ao todo cerca de meia hora, é a própria sensibilidade da retina (às fracas iluminações) que aumenta substancialmente.
Embora esta segunda fase demore cerca de meia hora verifica-se que, ao fim dos primeiros 10 a 15 minutos, já se obtém uma adaptação satisfatória. No entanto, esta adaptação será prejudicada obrigando a nova espera, se o indivíduo se expuser à luz, mesmo que momentaneamente (acender um isqueiro ou uma lanterna). Para consultar mapas ou cartas celestes convém utilizar luz vermelha, dado que a luz desta cor não prejudica significativamente a adaptação à obscuridade. Qualquer lanterna que se use deverá ser coberta com um filtro ou um papel vermelho.
Nestas condições de adaptação, diz-se que os olhos estão a funcionar em visão nocturna, o que torna a sensibilidade da nossa visão prodigiosa: uma estrela de 6º magnitude apresenta, aos nossos olhos, o mesmo brilho que uma vela vulgar colocada a 12 quilómetros de distância.
Esta, é a primeira etapa para se iniciar na exploração do céu nocturno, a segunda, talvez seja uma passagem pela AstroFesta 2008, a decorrer nos próximos dias 8,9,10 de Agosto em Vila Nova de S. Bento, no concelho de Serpa.
Boas observações nocturnas e boas férias…
Sugestão de Leitura
Nome: Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas
Autores: Máximo Ferreira e Guilherme de Almeida
Editora: Plátano
ISBN: 9727702678
Ano: 2001
Sinopse: Este livro destina-se ao grande público e, em especial, a todas as pessoas de algum modo interessadas pela Astronomia. Contém numerosas sugestões e conselhos práticos que permitem, além do conhecimento das constelações e das estrelas mais brilhantes, aceder a um vasto leque de observações a olho nu, com binóculos e com pequenos telescópios. Além dos aspectos predominantemente voltados para a observação directa, esta obra descreve os corpos celestes, explica diversos fenómenos e familiariza o leitor com as noções fundamentais da Astronomia. O texto, claro e acessível, inclui vários apêndices e temas de desenvolvimento. Contém ainda uma carta celeste desdobrável, 24 mapas estelares mensais e um mapa com os principais pontos de interesse na superfície lunar.
Por: António Costa